Título: Agenda de Lula privilegiará municípios do Sul e Sudeste
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2006, Política, p. A7

A agenda eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá um caráter notadamente municipalista, o que deve permear todos os atos de campanha do presidente até o dia da eleição. A escolha é obvia: é nos municípios que se desenvolvem os programas sociais do governo como o Bolsa Família, o carro-chefe da jornada de Lula rumo a um segundo mandato. Além disso, o presidente acredita que desenvolveu uma relação especial, suprapartidária e muito forte com os prefeitos, nesses três anos e meio de governo do PT.

Na semana passada, o tucano Geraldo Alckmin também decidira desencadear uma mobilização dos prefeitos do PSDB e do PFL do Nordeste, a fim de tentar diminuir a enorme vantagem que Lula apresenta na região, segundo as pesquisas de opinião pública. Só os pefelistas estimam que controlam cerca de 60% das prefeituras nordestinas e prometem engajá-las na campanha eleitoral de Alckmin. Esperam pelo menos reduzir a diferença e estabelecer alguma vantagem nas regiões Sul e Sudeste, para levar a eleição ao segundo turno.

Já o comando estratégico da campanha de Lula decidiu privilegiar a campanha do presidente nessas duas regiões, as de maior concentração de eleitores, nas quais há Estados em que Alckmin apresenta ligeira vantagem. Isso "sem desguarnecer a enorme vantagem existente no Nordeste e no Norte", como informa o coordenador da agenda eleitoral de Lula, o ex-assessor especial do Palácio do Planalto, César Alvarez. Em qualquer situação, o município vai permear as atividades da agenda do presidente.

Parte da estratégia da campanha - "óbvio, não poderia ser diferente" -, Alvarez conta que a confecção da agenda eleitoral de Lula "tentará expressar, na movimentação, na divulgação, nos eventos que o candidato patrocine ou vá, um reforço, um espaço, um destaque, um holofote, uma ampliação do realizado" no primeiro mandato. "E do realizado com a sua coerência, com a sua complementaridade, mostrando que esse realizado é enorme, vastíssimo, em diferentes campos das políticas públicas, nas diferentes regiões e sub-regiões do Brasil, e que ele tem um conteúdo, ele tem um projeto de Brasil, que ele tem um rumo, que ele tem uma diretriz".

Em resumo, mostrar que Lula "não é a soma de um ativismo realizador", mas, mesmo que fosse, "de quantidade e qualidade diversas dos governos anteriores, como ele (Lula) mesmo diz: 'Escolham o que vocês querem comparar, quando e onde, em que ano querem começar, em que ano querem terminar'. Nós temos realizações porque temos um projeto. Então é uma campanha onde, afirmando o realizado, nós propomos dar continuidade a esse realizado", argumenta. "Quantitativamente e qualitativamente. Esse é o elemento central da estratégia de campanha que orienta a agenda".

A partir desses conceitos, a agenda da campanha à reeleição pretende refletir "a amplitude de uma candidatura suprapartidária, o tema da governabilidade, principalmente a busca de uma agenda forte com os prefeitos", diz o encarregado de agendar os passos do presidente nos próximos próximos 58 dias, até o primeiro turno da eleição. "Nós dificilmente deixaremos de fazer uma agenda sem ter um momento, um ato suprapartidário com prefeitos", informa Alvarez.

Isso, segundo o coordenador da agenda, "porque sabemos que imprimimos no governo uma relação federativa de outra qualidade. O prefeito é um ente da federação, o prefeito não é um subordinado ao governo do Estado com o qual a União só se relaciona passando pelo governador", afirma. "Nós estamos levando ao pé da letra a definição constitucionais de que o Brasil é uma Federação que tem União, Estados e municípios. Nós desenvolvemos um respeito, uma relação com os prefeitos muito forte. E então a agenda está expressando isso, está reafirmando essa expressão nova, municipalista. Federativa, plena, do governo".

Alvarez chama a atenção para o fato que, de quatro marchas de prefeitos realizadas no atual governo, Lula foi a três delas. Só não esteve em uma porque estava viajando. Fora as reuniões, que discutiram até 80 temas, e contaram com as presenças de 12 ministros, além do presidente. Cada ministro tendo que discutir, concordar ou discordar sobre seis, sete ou temas em pauta. "A agenda reproduz isso", diz o assessor de campanha.

O coordenador da agenda admite que a municipalização da campanha, evidentemente, procura capitalizar as ações para reduzir o que o próprio presidente chamou de "déficit social" no lançamento de sua recandidatura: "É ali (no município), também, onde as coisas estão acontecendo, onde tem a vaga, onde surgiu a escola técnica, onde agora vai ter escola aberta, onde até o fim do ano não vai ter uma escola de ensino médio sem uma oficina de computadores".

Alvarez informa que, nos próximos dias, o governo fará uma licitação no valor de R$ 83 milhões "para completar a informatização das escolas públicas de ensino médio do Brasil". Segundo afirma, "100% das escolas públicas de ensino médio terão uma sala, uma oficina de informática com 10 computadores. Então, é no município que está o Pronaf, Bolsa Família. No município é onde se concretizam os programas sociais, o ProUni, o Bolsa Família", diz. "Governabilidade também reconhecendo a legitimidade da ampliação partidária, mas também reconhecendo o ente político prefeito".

Eventos com prefeitos farão parte, portanto, da agenda nas regiões. "A agenda prevê, na sua tipologia, o evento da mobilização (comício, plenária, caminhada), o apoio do prefeito e, eventualmente, alguns eventos focados sobre determinada política pública". Já para este sábado está previsto um evento com prefeitos petistas e não-petistas em Campinas (SP).