Título: Intimação ao exército petista
Autor: Pariz, Tiago; Rothenburg, Denise; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2010, Política, p. 2

Lula e a presidenciável Dilma Rousseff convocam governadores e parlamentares eleitos para que não baixem a guarda e reforcem a militância nos estados no segundo turno

Apresidenciável Dilma Rousseff (PT) mobilizou em Brasília um exército de cerca de 50 políticos eleitos no primeiro turno para manter quente o clima da campanha entre a militância petista. Com eles a postos, iniciou-se a ofensiva em cima de Marina Silva (PV) e de partidos que disputaram a eleição rachados. A convocação partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda na noite de domingo, depois de ver um clima de velório entre os integrantes de seu time, inconformados com mais um mês de corrida pelo Palácio do Planalto.

Nove governadores eleitos da base participaram. A orientação é manter os escritórios eleitorais, seja de candidatos a governo, Senado, Câmara e Assembleia Legislativa funcionando nos estados. Aumentar a divulgação de material de campanha, incluindo a divulgação do programa de governo com propostas para o meio ambiente. E fazer uma campanha para esclarecer as posições sobre religião para trazer os eleitores conservadores que optaram por Marina. Católicos e evangélicos, sobretudo, causaram uma sangria de votos de Dilma nas últimas semanas por conta de polêmicas sobre aborto, resultado de uma campanha viral na internet.

Nós vamos fazer um movimento para esclarecer a população nossas posições. Esclarecer o máximo possível, afirmou Dilma Rousseff, após o encontro com os governadores. O recomeço da campanha será no Rio de Janeiro, onde Marina Silva ficou em segundo lugar, com 31,5% dos votos, e há uma grande concentração de evangélicos. Os petistas entendem ser possível aumentar a votação de Dilma em cerca de 20 pontos percentuais a diferença entre o que ela teve no estado e a cifra que reelegeu o governador Sérgio Cabral (PMDB). Cabral, aliás, pressionado pela campanha por não ter equiparado sua votação à de Dilma, esquivou-se da cobrança dizendo que o eleitor fluminense demonstrou que quer uma mulher presidente, já que Marina Silva ficou em segundo no estado.

Pelo telefone Dilma ligou para a candidata verde ontem pela manhã e a parabenizou pelo desempenho no primeiro turno. Foi um primeiro aceno para trazer o apoio da ex-ministra, levando-se em conta que o PV não dará seu apoio. O PV não integrou a base da nossa coligação, afirmou a petista. E não está nas nossas possibilidades (esse apoio), emendou. Dilma, no entanto, elogiou a sua adversária na primeira rodada de votação, sem cobrar o apoio. Não significa que ela deva me apoiar. Eu respeito a Marina e acredito que temos mais possibilidades do que diferenças, afirmou.

A ligação para Marina foi uma das prioridades do primeiro dia pós-ressaca, depois que Dilma reuniu os coordenadores de campanha e ela e o presidente Lula concluíram a série de ligações para todos os governadores e senadores eleitos da base governista. A alguns aliados, Lula avisou que não se licenciará do cargo para se dedicar exclusivamente à campanha, o que aumenta a responsabilidade de todos.

Por volta das 8h30, Lula falou com o ex-ministro Tarso Genro, governador eleito do Rio Grande do Sul. Não deixe nada desmobilizar no segundo turno, disse Lula a Tarso, classificado pelo comando da campanha de Dilma como o principal artilheiro petista da Região Sul, onde José Serra obteve mais votos em termos proporcionais e ainda tem governadores eleitos ao seu lado: o de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM), e o do Paraná, Beto Richa (PSDB).

Tarso avaliou que a votação de Dilma foi espetacular. Quem passou por mais de 60 dias de um bombardeio da ampla maioria da mídia e fazer o percentual de votos que ela fez foi uma grande coisa. E temos um cenário onde quem cresceu não foi ao segundo turno. Marina tem mais afinidade com o projeto de Dilma do que com o projeto de Serra. Tenho a convicção de que ela irá apoiar Dilma, afirmou, disposto a procurar a candidata verde: Se a coordenação quiser, farei com o maior prazer. Adoro a Marina, disse o futuro governador gaúcho.

Ele considerou alguns fatores como principais responsáveis pelo segundo turno e, entre eles, citou o caso Erenice Guerra, sem mencionar o nome da ex-ministra. Não há um dado que vincule a Dilma, mas tudo foi depositado nela, disse Tarso.

Do Nordeste, Eduardo Campos e Cid Gomes chegaram a Brasília dispostos a ampliar ainda mais a votação que Dilma obteve na região. Campos já começou logo cedo. É preciso eleger Dilma para dar continuidade ao trabalho do melhor presidente para os pernambucanos, disse. Já o governador reeleito de Sergipe, Marcelo Déda, tratou quase que como uma obrigação a candidata verde apoiar Dilma. A Marina participou do governo, ficou 30 anos no PT, lembrou Déda.

Colaborou Igor Silveira

"Não significa que ela deva me apoiar. Eu respeito a Marina e acredito que temos mais possibilidades do que diferenças

Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência

O número Faltam 26 dias Para 2º turno

Ouça trechos da entrevista com o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP)

Análise da notícia A face da apatia

Leonardo Cavalcanti

Há uma norma de ouro entre marqueteiros: um político nunca deve exibir cara de derrota, principalmente enquanto a disputa não estiver encerrada. Hoje, Dilma Rousseff é a favorita para o Planalto, mas não parece. Nas últimas 48 horas, a candidata de Lula demonstra abatimento. Uma apatia poucas vezes vista. A decepção com a ida ao segundo turno é evidente em seu rosto.

Tudo começou ainda na noite de domingo, na entrevista aqui em Brasília, e continuou ontem, no encontro com governadores aliados. Se um dia acreditou levar no primeiro turno, a petista tem motivos para a tristeza. O problema é que isso desestimula a torcida, no caso a dos petistas. E contrasta com a alegria dos tucanos, faceiros por conseguirem prorrogar a eleição presidencial.

Cobrança por mais empenho

Edson Luiz

No primeiro turno da eleição presidencial, os votos dos aliados de Dilma Rousseff nos estados nem sempre acompanharam a candidata à Presidência. Mesmo nas unidades da Federação onde os postulantes aos governos locais tiveram votação relevante, como em Pernambuco, a migração para a petista foi menor. Isso ocorreu em 11 estados e no Distrito Federal. No Acre, onde o PT comanda há 12 anos, e elegeu o senador Tião Viana em 2010, a diferença foi mais expressiva.

Tião Viana teve 50,50% da votação para governador, o que evitou a realização de um segundo turno. Dilma, porém, só conseguiu 23,90% dos votos. No estado, a primeira posição ficou para seu principal adversário, José Serra (PSDB). O mesmo ocorreu em outros estados pequenos, como Roraima, onde a petista ficou com 28,72%, enquanto que seu aliado, o ex-governador Neudo Campos (PP), garantiu 47,62% dos votos. No Distrito Federal onde a candidata do PV, Marina Silva, foi vitoriosa , Agnelo Queiroz teve quase 17% a mais que Dilma na eleição para o governo.

Mesmo em estados com maior número de eleitores, Dilma não teve a transferência de votos dos candidatos ao governo, como em Pernambuco, onde Eduardo Campos (PSB) foi eleito em primeiro turno, com 82,84% dos votos, mas a petista conseguiu 61,74%. Renato Casagrande (PSB) ganhou a eleição em primeiro turno no Espírito Santo com 82,30% dos votos, mas sua aliada à Presidência da República obteve 37,25%.

Na Bahia, a diferença foi menor 63,83% alcançados pelo governador reeleito Jaques Wagner e 62,62% de Dilma , como aconteceu no Rio Grande do Sul, onde Tarso Genro conseguiu que sua votação, que chegou a 54,35%, beneficiasse em grande parte a postulante ao Planalto, que teve 46,95%. No Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) obteve votação expressiva, atingindo 66,08% da votação para o governo, mas só conseguiu transferir 43,76% para sua aliada petista.

Além do Acre, Dilma perdeu também em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rondônia, Paraná, Santa Catarina e Rondônia. Nos dois últimos estados, contudo, a candidata do PT teve uma votação maior que os candidatos a governadores aliados.