Título: Medidas devem ter impacto reduzido sobre a inflação, dizem economistas
Autor: Martins,Arícia
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2012, Brasil, p. A7

As medidas de estímulo à indústria anunciadas ontem pelo governo terão impacto reduzido sobre a inflação, avaliam economistas consultados pelo Valor. Para eles, o alívio de custos que pode ocorrer com a desoneração da folha de pagamento de mais 11 segmentos industriais, além dos quatro já contemplados com o benefício, não chegará ao consumidor, já que a "folga" deve ser usada para recompor as margens do setor em um momento de fragilidade. Além disso, a renúncia fiscal de líquida de R$ 3,1 bilhões estimada pela Fazenda não implicaria em contenção de gastos públicos, pois o governo tem margem de manobra no Orçamento, limitando uma ajuda à inflação por essa via.

Na contramão dos serviços, os bens industriais já vêm ajudando a inflação porque a competição acirrada com os importados reprime aumento de preços. Nos 12 meses encerrados na segunda quinzena de março, os bens duráveis, grupo composto somente por produtos industrializados, acumulam queda de 2,8% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15). A inflação de bens industriais no período, calculada pelo Banco Fator, foi de 2,79%, abaixo dos 5,6% do indicador geral.

"Na hora que essas medidas foram decididas, acredito que a questão da inflação não foi um dos pontos analisados pelo governo", diz Luiz Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, que não aposta em efeitos consideráveis do pacote na dinâmica de preços. "Pode haver algum impacto de curto prazo, mas o problema da inflação continua sendo os serviços", afirma.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, acredita que a ampliação da desoneração da folha de pagamento deve reduzir custos de produção, mas vê como limitado o espaço de repasse aos preços finais, já que, em sua opinião, é elevada a probabilidade de os recursos extra serem usados para reforçar o caixa das empresas.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a diminuição de custos por desoneração é "mínima", mas é possível que haja impacto adicional nos preços no longo prazo pelo acúmulo de medidas que vão sendo colocadas para proteger a indústria.

Do lado dos importados, a tendência de desvalorização do real, aliada à tributação maior sobre importados, acrescenta Vale, aumenta as chances de que o comportamento dos preços de bens duráveis "deixe de ser tão favorável", hipótese que Alessandra vê com mais cautela. "A diferença de preços dos produtos domésticos em relação aos importados ainda será significativa. Temos a questão do mundo fraco", o que, segundo a economista, impede aumentos expressivos dos produtos estrangeiros. "Se os preços dos importados aumentarem, aí é que a indústria nacional não vai mexer nos dela", afirma Leal, do ABC Brasil.