Título: Canadá precisa reduzir sua dependência dos EUA, diz BC
Autor: Moreira,Assis
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2012, Internacional, p. A13

Mesmo quando a economia dos EUA recuperar as perdas sofridas na grande recessão de 2008, o PIB americano estará inferior em mais de US$ 1 trilhão em 2015 em relação ao que se previa antes da crise, diz o Banco Central do Canadá.

Estimando que a economia dos EUA "não é mais o que era", o presidente do BC canadense, Mark Carney, sugeriu esta semana às empresas do país que acelerem a busca de negócios nos países emergentes, pois mudou o quadro para "exportar num mundo do pós-crise".

O Canadá tem enorme dependência do mercado dos EUA, destino de mais de 70% de suas exportações. Só que desde 2000 o crescimento anual de suas vendas externas ficou 5% inferior ao das exportações mundiais em média. Sua fatia nas exportações globais declinou de 4,5% para 2,5%.

Para Carney, esse péssimo resultado ocorre porque os produtos canadenses são destinadas sobretudo às economias desenvolvidas, em especial os EUA, onde o crescimento é lento, mais que para os emergentes, que estão em expansão rápida. Essa concentração reduziu a taxa de crescimento anual das exportações em 3,3 pontos percentuais entre 2000-2007.

A dependência canadense fica mais problemática se os EUA continuarem tendo resultados fracos em relação ao que foi observado no passado e ao resto do mundo. O BC avalia que a taxa de crescimento da produção potencial nos EUA, o chamado "limite de velocidade" da economia americana, já caia em 2007, antes da crise, por causa do envelhecimento da população e da expansão lenta da produtividade.

Nesse período, os mercados emergentes tiveram ganhos consideráveis de produtividade, que aumentaram seus "limites de velocidade", de forma que o fosso continua a aumentar entre a economia dos EUA e a do resto do mundo.

Para Carney, a grande recessão de 2008 piorou a situação. A história mostra que um país não recupera nunca o que perdeu em produção no período de grave crise financeira. Além disso, a taxa de crescimento da produção potencial tende a ser menos rápida por um tempo após uma crise, por causa da baixa de investimentos de capital e da alta do desemprego estrutural. Nesse cenário, o PIB dos EUA perde US$ 1 trilhão em 2015 em relação ao que se previa antes da crise (veja gráfico). O Escritório de Orçamento do Congresso americano (CBO) prevê um PIB real de US$ 14,9 trilhões para 2015.

Os EUA continuam a ser a maior economia do mundo, mas é inevitável a evidência de que a alta de negócios passa pelos emergentes. Desde a recessão de 2008, os emergentes responderam por dois terços do crescimento mundial e metade da expansão das importações. A população urbana da China e da Índia cresce o equivalente da população inteira do Canadá (34 milhões) a cada 18 meses. Já a classe média global aumenta em 70 milhões de pessoas por ano, elevando a demanda por todo tipo de bem.

Assim, para Carney, os desafios e as oportunidades atuais - fraca recuperação dos EUA, maior crescimento nos emergentes, cotação historicamente elevada das commodities e vigor persistente do dólar canadense - tendem a continuar por um bom tempo.