Título: PT, vem aí um PMDB perigoso
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2010, Política, p. 8

Apesar da aliança, nova bancada peemedebista é cheia de políticos afinados com Serra

O PT na Câmara e o PMDB no Senado. Esse foi o saldo das eleições que renovaram parlamentares das duas Casas. Juntas, as legendas fizeram 199 parlamentares, um terço de todo o Congresso. Mas diferentemente do PT, que tem tradição de atuar em bloco nas votações das casas, o PMDB que saiu das urnas mantém sua característica de federação. Dos 79 deputados federais eleitos pela sigla, pelo menos 17 já demonstraram afinidade programática com o PSDB do candidato à Presidência José Serra ou apoiaram a candidatura do tucano. No Senado, pelo menos três novos parlamentares peemedebistas que se integrarão à bancada do partido marcaram oposição ao governo Lula e à presidenciável Dilma Rousseff (PT) na eleição deste ano. Entre eles, os recém-eleitos Roberto Requião (PR), Luiz Henrique (SC) e Waldemir Moka (MS).

Apesar de ter entrado oficialmente na campanha petista, emplacando o atual presidente da Câmara Michel Temer (PMDB-SP) como vice de Dilma, a nova bancada do PMDB no Congresso indica que não faltariam interlocutores ao partido na hipótese de uma vitória de Serra. E nem mesmo o segundo turno da disputa presidencial modificou o posicionamento dos serristas do PMDB. O governador (André) Puccinelli é Serra. Somos um grupo político, as coisas não são individuais. Tenho lealdade ao governador e ele deve trabalhar pelo Serra, afirma Moka.

As renovações nas bancadas do PMDB na Câmara e no Senado também influenciarão diretamente o comportamento dos caciques no primeiro ano do governo que será escolhido em 31 de outubro. Dos novatos eleitos, grande maioria vem de grupos dominados por Temer, pelo senador reeleito Renan Calheiros (PMDB-AL) e pelo presidente do Senado José Sarney (PMDB-MA). Renan e Sarney, apesar de atuarem como aliados do governo Lula nos último anos, têm afinidade histórica com os tucanos.

Jader Barbalho (PMDB-PA), que obteve 1,7 milhão de votos, mas aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para comemorar a conquista da cadeira no Senado, se deu ao luxo de eleger uma minibancada particular na Câmara. Entre os quatro deputados federais eleitos com o seu apoio, estão sua mulher, Elcione Barbalho, e seu sobrinho José Priante. Na nova bancada peemedebista nas casas, estados do Norte, do Sul e Minas Gerais elegeram deputados mais afinados com o PSDB, que podem funcionar como gatilho de apoio ao tucano, no partido.

O diálogo do partido do presidente Lula com o PMDB pode carecer de experientes líderes que não voltarão ao Congresso no próximo ano. Apesar de ter ampliado numericamente a bancada, o PT estará desfalcado de figuras importantes na articulação política. No próximo ano, os deputados federais não contarão mais com Antonio Palocci (SP), que decidiu não concorrer e atuar na coordenação da campanha de Dilma. Barrados pelas urnas, o deputado José Genoino (SP) e a senadora Ideli Salvatti (SC) também integram a lista dos petistas renomados que não voltarão ao Congresso no próximo. Apesar de desfalcado, o PT comemorou a conquista da maioria nas casas. Conseguimos a maioria. E a maioria é indispensável para se governar, afirmou o deputado José Eduardo Cardozo, da coordenação da campanha de Dilma.

O número 79 Quantidade de deputados federais do PMDB eleitos neste ano

Evolução das bancadas DEM sem os seus caciques

O resultado das urnas mostrou que as siglas que assumiram a empreitada de auxiliar a candidatura do presidenciável José Serra foram as que mais murcharam. O DEM perdeu 28 parlamentares, levando em conta a sua atual representação nas duas casas. Além da perda numérica, o partido vai amargar, a partir de 2011, a ausência dos caciques Heráclito Fortes (PI), Marco Maciel (PE) e Efraim Morais (PB), que não conseguiram a reeleição ao Senado. O próprio PSDB perdeu 18 parlamentares. Destaque para a derrota da candidatura do senador Arthur Virgílio.

O PPS também viu a bancada minguar em 10 deputados, colocando a legenda apenas um nível acima do nanico PRB no ranking que mede o poderio dos partidos na Câmara. A aliança do PTB com o PSDB também afetou a sigla do ex-deputado Roberto Jefferson (RJ). O partido perdeu um parlamentar.

Os eleitores do Distrito Federal e de Sergipe deram um cartão vermelho para sete dos oito deputados federais que elegeram em 2006. As regiões registraram os maiores índices de rejeição aos parlamentares que compõem as bancadas estaduais atualmente.

Apesar da expectativa, a Câmara não conseguiu ampliar a bancada feminina. A divulgação prévia dos eleitos na disputa proporcional aponta para a diplomação de 44 mulheres. Hoje, a Casa tem 45 deputadas. No Senado, a bancada feminina deve subir de 11 para 12 senadoras.

A incerteza do Ficha Limpa deixou em suspenso grande parte da formação das bancadas. Puxadores de voto, como o deputado Paulo Maluf (PP-SP), tiveram o desempenho nas urnas anulados enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) não definir o assunto. O caso repete-se em outros estados. Candidatos sozinhos, como Maluf têm votação para levar pelo menos outro deputado para a Câmara. Este ano, nanicos como o PRP, PRTB e PSL, que não tinham representantes na Casa, conseguiram emplacar eleitos. O PRdoB também teve sucesso, ampliou sua bancada de 1 para 8 deputados. (JJ)