Título: Governo quer ajuda de estatal para ganhar ouro olímpico
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2012, Brasil, p. A4

A presidente Dilma Rousseff quer usar até os cofres das empresas e bancos públicos para garantir o êxito da Olimpíada de 2016. O sucesso dos Jogos, para a presidente, não se limita à boa organização e acolhida de esportistas e torcedores. Dilma pretende aumentar o financiamento da preparação de atletas brasileiros, para garantir ao país lugar de destaque no quadro de medalhas da competição que será realizada no Rio de Janeiro.

Nas últimas semanas, a Casa Civil da Presidência da República tem promovido reuniões com integrantes do Ministério do Esporte e das estatais. O recado do governo é claro: quer mais investimentos nas modalidades olímpicas para que um número grande de atletas de alto rendimento chegue a 2016 com boas chances de vitória.

Um dos responsáveis pela ponte entre o governo e as estatais é o secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, que não quis comentar o assunto, ao ser consultado pelo Valor. O esporte será, assim, um novo campo para o uso das estatais como instrumento estratégico para a execução das políticas públicas. Na semana passada, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram cortes nos juros, dias depois de a presidente criticar os altos spreads bancários.

No caso do esporte, segundo dirigentes das empresas públicas, é preciso avaliar, além do potencial retorno de imagem, a solidez dos projetos apresentados pelas confederações esportivas. "A gente não quer fazer feio aqui no Brasil. É um projeto de longo prazo", disse ao

Valor

o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira. "No caso de 2016, já iniciamos conversações para que eles [dirigentes de confederações esportivas] apresentem projetos. A gente vai ter que olhar cada projeto e avaliar a nossa capacidade e a viabilidade."

Desde 2004, os Correios investiram R$ 76,5 milhões nas modalidades englobadas pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) - natação, maratona aquática, salto ornamental, nado sincronizado e polo aquático. Em 2012, os desembolsos totalizarão R$ 16 milhões, alta de 53,6% em relação ao ano anterior.

Os patrocínios da estatal em atletas da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) começaram em 2008 e somam R$ 18,4 milhões. Tais verbas chegarão a R$ 5,8 milhões neste ano - em 2011, foram destinados R$ 4,6 milhões. No tênis, o desenvolvimento de atletas de todo o país será feito também em parceria com o ex-tenista Gustavo Kuerten e o técnico Larri Passos.

Segundo Oliveira, os Correios estão abertos à análise de projetos de outras modalidades olímpicas, desde que essas propostas sejam "consistentes" e tenham uma clara destinação das verbas. A estatal avalia, por exemplo, uma demanda da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb).

Outros instrumentos do Palácio do Planalto são Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Eletrobras. A Caixa, por exemplo, apoia o atletismo, ginástica, luta e atletas paraolímpicos. Sua verba de patrocínio esportivo de 2002 a 2012 foi de R$ 191 milhões. Neste ano, o investimento será de aproximadamente R$ 33 milhões.

Enquanto o basquete brasileiro recebe o apoio da Eletrobras, atletas do boxe, esgrima, remo, taekwondo e levantamento de peso são patrocinados pela Petrobras. Nos últimos cinco anos, a Eletrobras desembolsou R$ 65,6 milhões para o esporte, incluindo R$ 16,8 milhões em 2012. A Petrobras, por sua vez, pretende aportar R$ 265 milhões até 2014, por meio de investimento direto e da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, no desenvolvimento de atletas de alto rendimento daquelas modalidades, em esporte educacional, eventos esportivos e projetos para resgatar a memória do esporte.

O Banco do Brasil investiu R$ 54 milhões no vôlei de quadra, vôlei de praia, iatismo, tênis, ciclismo e futebol de salão em 2010. No ano passado, foram R$ 56,1 milhões, excluindo o ciclismo. O Banco do Brasil ainda não definiu sua verba de patrocínio ao esporte olímpico para 2012, pois "prospecta" projetos em outras modalidades.

"O BB compartilha do desejo do governo - e certamente de todos os brasileiros - de que o país conquiste o maior número de medalhas em 2016, mas não apenas isso; para nós é importante também desenvolver o esporte, a exemplo da parceria com o vôlei, e agregar atributos positivos à marca", destacou o Banco do Brasil em nota.

"Para obter resultados efetivos, o investimento no esporte deve ser feito com visão de longo prazo - não apenas focando em um evento - mas pensando no desenvolvimento do esporte desde a base, na formação de novos atletas/ídolos/campeões, na oferta de infraestrutura para treinamento e competições", diz o banco.