Título: Microsoft Brasil exporta executivo
Autor: Borges, André e Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Empresas, p. B1

Quando Emilio Umeoka deixou a faculdade de engenharia, seu primeiro emprego foi em campos de petróleo em Angola e outros países africanos, como Zaire, Congo e Gabão. Agora, duas décadas depois e com experiência adquirida à frente de companhias como a Microsoft, cuja subsidiária brasileira ele dirigiu nos últimos quatro anos, Umeoka está de malas prontas novamente, mas com destino e posição muito diferentes. Após uma maratona de entrevistas entre Cingapura e Estados Unidos, realizadas nas últimas quatro semanas, ele foi escolhido para liderar as operações de Bill Gates em 11 países da região Ásia-Pacífico.

A partir do dia 28, o executivo de 43 anos passa a responder pelo cargo que era ocupado pelo argentino Eduardo Rosini, que já assumiu a vice-presidência mundial para pequenas e médias empresas. Na nova função, Umeoka se reportará diretamente ao presidente da Microsoft International, o francês Jean-Philippe Courtois. O nome do novo responsável pela subsidiária brasileira ainda é desconhecido. Umeoka evita especulações, mas diz que o sucessor pode ser recrutado tanto dos quadros da companhia como no mercado.

Filho de japoneses e natural de Mogi das Cruzes (SP), o executivo diz que a mudança não foi surpresa. "Uma vez por ano nos reunimos para uma discussão sobre carreira, mas eu esperava que algo acontecesse, talvez, daqui um ano", afirma.

Com a promoção, sua responsabilidade aumentou, e muito. Do outro lado do globo, uma malha complexa de negócios, que envolve a venda do sistema operacional Windows em 30 idiomas diferentes, aguarda as coordenadas da nova liderança. Também espera por Umeoka um contingente de 1,9 mil funcionários diretos (no Brasil são 460 profissionais), espalhados em operações pela Austrália, Bangladesh, Cingapura, Coréia, Filipinas, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, SriLanka, Tailândia e Vietnã.

"Vai ser um grande desafio, inclusive, para entender tudo isso. Mas estamos muito empolgados", comenta o executivo, que também já dirigiu a Compaq - adquirida pela Hewlett-Packard (HP) em 2002 - e que durante quatro anos consecutivos, incluindo 2006, recebeu o prêmio Executivo de Valor, na categoria Tecnologia da Informação/Serviços.

Questionado sobre os fatores que levaram a companhia à escolha de seu nome, Umeoka se refere a "uma conjunção de fatores", mas não deixa de destacar a condução da subsidiária em um período de forte instabilidade econômica. "A gestão financeira foi realmente um desafio. Cheguei à Microsoft em junho de 2002, com o dólar em R$ 2,63. Em novembro já batia R$ 4,00", lembra.

O executivo também chama a atenção para o trabalho de integração e comunicação feito com parceiros de negócios - que somam mais de 300 mil funcionários - e os profissionais da própria Microsoft. "O índice de satisfação do nosso pessoal era um dos mais baixos na América Latina", comenta. "Hoje a subsidiária é reconhecida por ter um dos melhores níveis de satisfação do mundo."

Iniciativas de inclusão digital e a batalha com o sistema operacional Linux também foram temas recorrentes de sua gestão. Para contra-atacar o Linux, um programa cujo código está disponível de graça, Umeoka reforçou a estratégia de oferecer produtos mais baratos e modelos de venda facilitados.

Trouxe da Ásia, para onde vai agora com a mulher e as duas filhas, o Windows Starter Edition, uma versão popular do famoso sistema operacional. Em menos de um ano, o produto atingiu mais de 500 mil lares no país, afirma o executivo. O projeto mais recente nessa linha integra a iniciativa internacional FlexGo: é a venda de micros que usam cartões pré-pagos. O programa nasceu no Brasil e já entrou em sua segunda fase de teste no país.

Umeoka também chama a atenção para projetos educacionais que tem realizado com o governo federal, os quais treinaram 4,5 milhões de pessoas em sistemas de informática e pretendem atingir 10 milhões de usuários até 2010. "Conseguimos fechar o ano com 20 centros de tecnologia espalhados no Brasil", diz.

Entre outros fatores, joga a seu favor também o fato de o Brasil ter sido o país em que a multinacional mais cresceu na América Latina em seu ano fiscal 2006, encerrado em junho. A subsidiária também registrou o melhor desempenho mundial de toda a companhia em sua divisão de negócios MSN, voltada para a internet.

Na Ásia-Pacífico, o executivo afirma que projetos semelhantes guiarão as suas prioridades. "Um dos meus objetivos também é fazer com que a região ganhe visibilidade na companhia, o que atrai investimentos", diz.

A família Umeoka ficará baseado em Cingapura, ilha que se tornou o coração financeiro da Ásia, com quase 5 milhões de habitantes e três idiomas: o chinês, o malaio e o inglês.

Viver no exterior não é uma novidade para o executivo. Além da África, ele já passou uma temporada em Houston, nos Estados Unidos, na época da Compaq. Apesar disso, Umeoka já fala em saudades do Brasil. "Vou sentir falta de tudo: das amizades, da cultura e da comida, com certeza."

Rumo ao território estranho, o executivo já começa a garimpar suas referências. "Sei de um açougue brasileiro por lá, chamado Casa do Espírito Santo", comenta. Em suas recentes pesquisas sobre a região, Umeoka diz ter descoberto que um forte símbolo místico de Cingapura é "a imagem de um leão com formato de peixe que cospe água", algo com significado similar ao da carranca que ele comprou no Nordeste - onde é usada pelos barcos para afastar tempestades e maus agouros - e sempre mantém em sua mesa. Estamos falando de uma suposta troca de símbolos? "Não, não. A carranca também vai comigo."