Título: Aprovação aumenta demanda por Dilma na eleição municipal
Autor: Costa,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2012, Política, p. A9

Desde que assumiu, a presidente Dilma Rousseff convive com a sentença segundo a qual não gosta e não sabe fazer política. Passados 15 meses de governo, poucos são os congressistas que sustentam essa posição. Dilma faz política, só que de um modo diferente do que fizeram os presidentes que a antecederam no cargo. E está cada vez mais forte, à medida que a população aprova o que parece ser uma firme disposição de quebrar determinadas fórmulas de negociação política, como o toma lá dá cá.

Aos poucos, os congressistas aprenderam que a presidente não é de se dobrar a pressões; Dilma, por seu turno, dá demonstrações de que pode mudar de opinião. Demora, é um processo longo, segundo um dos interlocutores da presidente, mas ela pode ser convencida, desde que considere bom o argumento. Esse é o caso da negociação sobre o Código Florestal.

A presidente torceu o nariz ao projeto aprovado originalmente na Câmara. Dilma fechou com o texto aprovado depois pelo Senado e parecia impermeável a concessões. Mas tem conversado muito com os ministros Mendes Ribeiro (Agricultura), que é do PMDB, e Aldo Rebelo (Esportes), do PCdoB, relator a proposta transitou ma Câmara. Não será surpresa, se ela chegar à votação com uma posição mais maleável em relação ao texto da Câmara.

Dilma não gosta de ter sua autoridade contrariada. Deixou isso claro quando trocou os líderes do governo no Senado e na Câmara, depois que os senadores rejeitaram o nome (Bernardo Figueiredo) que a presidente indicara para dirigir a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Entre aliados, houve quem atribuísse a ação à "falta de traquejo político da presidente". Os mais próximos de Dilma discordam: pode até ser um erro de cálculo, mas não de falta de gosto pela política.

Dilma tirou do senador Romero Jucá (PMDB-RR) a delegação de líder de seu governo, após ser convencida por sua coordenação política e senadores do PT de que o grupo liderado pelos senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) perdera a maioria da bancada do PMDB, o que é discutível, conforme demonstraram fatos subsequentes.

Decidida a fazer a troca, a presidente exibiu outra marca registrada de seu modo de fazer política: Dilma é direta, num universo em que a sinceridade excessiva na política é vista como um defeito. Ela primeiro falou com Sarney. Disse que eles (o núcleo Renan, Jucá e Sarney) não dispunham mais da maioria e que iria mudar o líder do governo. Não foi uma consulta. Mas Dilma também acenou com a possibilidade de Sarney fazer como seu sucessor, na presidência do Senado, o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), aliado dos Sarney na política maranhense.

Na conversa com Renan Calheiros, que deseja o cargo de Sarney, a presidente se estendeu sobre a importância de Alagoas no projeto político da aliança PT-PMDB. O Estado hoje é governado por um tucano, Teotônio Vilella. Dilma ressaltou que seria importante, para os governistas, retomar o poder em Alagoas e sinalizou que poderia apoiar uma eventual candidatura Renan Calheiros ao governo do Estado. Renan, segundo auxiliares da presidente, gostou do que ouviu da presidente. Pode ser. O fato é que partiu dele a primeira estocada no arranjo dilmista - o líder do PMDB era o sujeito oculto da articulação para formação do bloco PTB-PRS, o que pode alterar a relação das forças no Senado.

Em princípio, a formação do bloco não deve causar prejuízo ao governo. Foi apenas uma demonstração interna de força de Renan em relação ao substituto de Jucá na função de líder do governo, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Com requinte de maldade: o novo bloco foi criado nas sem que Braga e a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), soubessem do que se passava debaixo de seus narizes.

Pior: o governo bateu cabeça: após uma solenidade no Palácio do Planalto, Renan, Blairo Maggi (PR-MT) e Gim Argello (PTB-PR) subiram ao gabinete da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), que saudou a volta ao PR ao governo. Gleisi não sabia que Ideli estava por fora da articulação e deu margem para especulações de que ela, a ministra da Casa Civil, articulara o golpe em Braga. Um sinal também de que a presidente pode ter cometido um erro de cálculo ao atropelar a troica pemedebistas.

À medida que aumenta a aprovação popular de Dilma (77% dos eleitores, segundo pesquisa CNI/Ibope), mais a presidente é demandada para participar das eleições municipais. Segundo seus auxiliares, essa participação será restrita. O que já está certo é que ela não participará da campanha nas capitais nas quais os aliados estiverem divididos. Caso de Porto Alegre (RS), por exemplo, onde PT e PCdoB lançaram candidatos próprios contra o prefeito José Fortunati, do PDT, partido inicialmente escolhido por Dilma para atuar política, após a redemocratização do país (ela antes estivera envolvida em movimentos como o da anistia, ou seja, sempre fazendo na política.

Na prática, Dilma já vem atuando em questões eleitorais. Ela participou do arranjo para a escolha Fernando Haddad como candidato do PT a prefeito de São Paulo. A doença do ex-presidente Lula e o aumento de sua popularidade no Sudeste levam o PT a pensar em usar Dilma mais do que ela estava disposta a participar.

Dilma não quer ser multada pela Justiça Eleitoral tanto como Lula, em 2010. Fará campanha fora do expediente. A viagem que fez ao Rio, onde inaugurou uma creche em companhia de Haddad, é um exemplo do que pode fazer. Segundo auxiliares, é dela o mote da campanha de Haddad: "Da Creche à Universidade", espécie de síntese dos programas dos governos petistas com a educação.