Título: Programa quer formar 240 mil pessoas para trabalhar em hotéis durante
Autor: Costa ,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2012, Brasil, p. A2

Em apenas três dias e sem divulgação, mais de 12.000 trabalhadores do setor de hotelaria inscreveram-se, esta semana, em um dos 35 cursos de qualificação de mão de obra para a Copa do Mundo de 2014. O lançamento da campanha de marketing, previsto para hoje, pode ser adiado, caso a presidente Dilma Rousseff peça para ver antes as peças publicitárias, que têm o ex-jogador de futebol Cafu como garoto-propaganda.

O Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec) prevê a qualificação de 240 mil trabalhadores do setor de hotelaria como barman, sushiman, camareira, receptivo e garçons. São 32 cursos específicos e três de idiomas - inglês, espanhol e libras (linguagem dos sinais).

O programa, lançado no início do ano passado, estava com o cronograma atrasado, sobretudo, devido a exigências feitas pela Casa Civil da Presidência da República. Agora, teme-se o risco de que ocorra uma demanda maior que a prevista e que o sistema trave.

O início das inscrições foi intensamente debatido na Casa Civil com os técnicos do Ministério do Turismo. Segundo apurou o Valor, houve dias em que foram realizadas quase dez reuniões de monitoramento. A principal exigência da Casa Civil era a elaboração de um estudo sobre demanda dos cursos. A confecção desse estudo levaria pelo menos mais seis meses, comprometendo a meta de qualificar 240 mil trabalhadores para a Copa.

Fontes do Palácio do Planalto atribuíram o entrave à pouca experiência da nova equipe da Casa Civil. O Ministério do Turismo, por seu turno, argumentava que o mercado diria qual era a demanda - pelos primeiros três dias (sem propaganda, as inscrições estão abertas no site do ministério desde segunda-feira), a expectativa, agora, é que a demanda de profissionais será maior que a prevista. Mesmo tendo desencadeado o processo das inscrições, o ministério está contratando o estudo de demanda exigido pela Casa Civil.

O início das inscrições ocorreu após entendimento entre os ministérios do Turismo, Educação e o Sistema S: o MEC entra com os institutos federais e o Sistema S, mantido pelas confederações patronais, especialmente com o Senac. A meta é qualificar 40 mil pessoas por semestre -- 80 mil ao ano, o que permitirá chegar a 2014 com os prometidos 240 mil.

Questionado, o ministro Gastão Vieira (Turismo) minimizou a queda de braço entre seu ministério e a Casa Civil. "Nós trabalhamos com um grau de tranquilidade muito bom, no sentido de que vamos atender à demanda no prazo estabelecido", disse o ministro ao Valor.

O ex-jogador Cafu, capitão da seleção na Copa de 2002, foi escolhido como garoto-propaganda da campanha de inscrição por sua história de vida. "De origem humilde, tornou-se um vencedor a custa de determinação e preparo", disse o ministro.

Vieira é reticente ao falar sobre os investimentos para a construção e reforma de hotéis, especialmente no que se refere às sedes fora do eixo Rio-São Paulo. Essa é uma das críticas feitas ao Brasil pela Fifa, segundo a qual as obras andam mais rápido na região Sudeste. Em Manaus, capital do Estado do Amazonas, a cidade-sede mais isolada da Copa do Mundo e 2014, por exemplo, considera-se que as obras no setor hoteleiro estão bastante atrasadas.

O fato é que o investimento para ampliação da oferta do número de leitos em cidades como Manaus leva em consideração outros fatores. Somente quatro jogos serão disputados na capital do Amazonas e é pouco provável que ela receba seleções nacionais de ponta, como Espanha, Itália e Inglaterra, por exemplo. O mais certo é que receba jogos de seleções de pouco público. Assim, espera-se pelo sorteio das chaves, antes de calibrar a intensidade dos investimentos. No Amazonas existe a opção de oferta de hotéis-barco.

Entre 2010 e 2011, já foram investidos R$ 370,6 milhões em novas obras e reformas no setor hoteleiro, segundo dados do Ministério do Turismo.

Vieira deve convocar uma reunião para pressionar a rede hoteleira a oferecer contrapartidas às desonerações autorizadas para o setor, no pacote lançado segunda-feira pelo governo federal, no total de R$ 240 milhões. É uma exigência do Ministério da Fazenda: a desoneração do setor deve se refletir nos preços de hotelaria - considerados muito elevados - e no aumento de empregos para o setor.