Título: PT fecha com Greenhalgh para a Presidência da Câmara
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Política, p. A7

O candidato do PT à sucessão do presidente da Câmara, João Paulo Cunha, é o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). O processo de escolha foi tenso, demorado, provocou algumas mágoas já esperadas na bancada do PT, mas refletiu uma decisão das cúpulas de governo e do partido: é preciso mudar comportamentos e deixar a truculência de lado para recompor a unidade entre os parlamentares petistas para enfrentar as votações relevantes em 2005. A candidatura de Greenhalgh pode atender a esse propósito, avaliaram os petistas no Palácio do Planalto, na medida em que minimiza a tensa relação da bancada com o governo. O nome de Greenhalgh foi anunciado com emoção ao fim de uma longa reunião da bancada. O presidente nacional do PT, José Genoíno, e o atual líder, Arlindo Chinaglia (SP), choraram, e deixaram o candidato escolhido bastante sensibilizado. Os líderes petistas já iniciaram ontem uma operação para minimizar as resistências ao nome de Greenhalgh dentro e fora da base aliada. A personalidade meio sizuda do deputado, aliada a um estilo mais introspectivo e discreto, passam, na avaliação dos parlamentares, uma imagem antipática dele. Greenhalgh disse que conversará com cada um dos 512 deputados após o Natal, e prometeu seguir o exemplo de humildade e transparência de João Paulo, sensível à necessidade de diálogo com a oposição. O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), lançou também ontem sua candidatura avulsa à presidência da Casa, repetindo tática do PT, quando era oposição, de ter candidato alternativo ao lançado pela maior bancada. Os outros três candidatos do PT- o líder do governo, Professor Luizinho (SP); o líder da bancada, Arlindo Chinaglia (SP); e o deputado Virgílio Guimarães (MG) - desistiram da disputa, nesta ordem, ao longo do dia, por duas razões: falta de apoio político dentro da bancada ou falta de apoio do próprio Palácio do Planalto. "O fato de o Palácio anunciar que não iria interferir na disputa ajudou o Greenhalgh", analisou um petista. A renúncia de Professor Luizinho deu fôlego a Greenhalgh na disputa. "O gesto de grandeza teria que partir do campo majoritário. Queremos buscar a pacificação da bancada", disse Luizinho, explicando que a cúpula rejeitou adotar uma posição de força. "O campo majoritário do PT foi extremamente generoso e responsável. É um passo importante para a unidade do partido", disse Greenhalgh. O escolhido do PT, atualmente, não é ligado a nenhuma das correntes políticas internas do PT, o que o classifica como parlamentar mais independente. Ele anunciou ontem, no entanto, que há sete meses pediu seu retorno ao "campo majoritário", ou seja, à corrente Articulação, a mesma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu sou amigo do Lula e trabalhei por 25 anos para que ele subisse a rampa do Palácio do Planalto. Não vou ser empecilho ao governo", disse Greenhalgh, após ter o nome oficializado pela bancada. "Vou me abster na presidência da Câmara de ser causador de polêmicas", acrescentou. O deputado tem talvez uma das mais próximas relações de amizade com Lula, desde a fundação do PT, e é bem relacionado com os movimentos sociais. Árduo defensor de causas envolvendo os direitos humanos, advogava recentemente para o Movimento dos Sem Terra, fator que provoca grande resistência da bancada ruralista da Câmara a seu nome.