Título: Dilma atinge 77% de aprovação
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2012, Política, p. A8

A aprovação pessoal da presidente Dilma Rousseff aumentou cinco pontos percentuais desde dezembro de 2011 e alcançou recorde (77%), segundo pesquisa realizada pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), no mês de março. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva tinham, nessa fase dos seus primeiros mandatos, 60% e 54%, respectivamente.

O percentual de entrevistados que consideram o governo Dilma "ótimo" e "bom" (56%) manteve-se no mesmo nível de dezembro, mas o percentual é bem maior que o dos antecessores FHC (41%) e Lula (34%), no mesmo período.

Na avaliação da atuação do governo, a política de juros é a mais mal avaliada, mantendo-se praticamente no mesmo índice de desaprovação de dezembro (de 66% para 65%, portanto dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos). Também são mal avaliadas as áreas da saúde (63% de desaprovação) e segurança pública (61%). O maior crescimento no percentual de aprovação foi registrado para as ações relativas ao meio ambiente. Também são bem avaliadas as áreas de combate à fome e à pobreza e ao desemprego. São sinais de alerta os índices de que 50% desconfiam da maneira como a presidente combate a inflação e a forte rejeição da população ao aumento de impostos.

O fato de a popularidade de Dilma ter crescido mais do que a aprovação do governo pode ser explicado, segundo o gerente-executivo de Políticas Econômicas da CNI, Flávio Castelo Branco, à "postura firme" com que a presidente agiu em relação à sua base aliada no Congresso e às denúncias de irregularidades do seu governo, trocando ministros envolvidos. "Isso mostra, talvez, uma separação da percepção da população em relação a essas características pessoais, vistas como positivas."

Um dado favorável a Dilma é o crescimento das notícias positivas relacionadas ao governo que foram citadas espontaneamente pelo entrevistados. Houve redução expressiva na lembrança de notícias sobre corrupção: foram lembrados por 28% em dezembro e agora, por 5%.

As notícias mais lembradas referem-se a programas sociais e ações voltadas para as mulheres e as viagens internacionais da presidente - principalmente Cuba e Alemanha. O período de entrevistas coincidiu com as comemorações do Dia da Mulher e com viagens presidenciais.

A pesquisa mostra haver aumentado também a confiança da população na presidente Dilma, de 68% em dezembro para 72%. A aprovação de sua maneira de governar é maior no Nordeste (82%), mas houve crescimento também na região Sudeste (69% para 75%). A aprovação do estilo Dilma de governar diminui entre os entrevistados com maior grau de instrução.

Para Castelo Branco, a popularidade recorde da presidente Dilma Rousseff dá a ela "capital político com densidade para enfrentar questões legislativas de natureza complexas", que exigem grande apoio parlamentar, como reformas no sistema tributário.

Ele cita o exemplo do projeto de resolução do Senado número 72, que reduz e uniformiza as alíquotas do ICMS em operações interestaduais sobre importação - uma reivindicação do setor produtivo. "O projeto pode ser um exemplo. Apenas de fortes resistências de caráter federativo, o Executivo está sendo bastante enfático na defesa da proposta", diz ele.

A pesquisa CNI/Ibope foi realizada de 16 a 19 de março de 2012, com 2.002 pessoas sendo entrevistadas, em 142 municípios de todo o país. Para Castelo Branco, as variáveis econômicas são as mais levadas em conta pela população, na avaliação do governo. Ele lembra que, apesar de alguns problemas recentes nessa área, houve, por outro lado, no período entrevistado, aumento do salário mínimo e o desemprego baixo.

O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), atribuiu o resultado a "sobras de momentos anteriores onde a economia andou bem e onde o emprego existiu". O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a pesquisa reflete "um dado de momento" e que, posteriormente, a população cobrará resultados "concretos" em áreas sensíveis, como saúde, infraestrutura e segurança pública. Já o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), disse que "há muita generosidade" por parte da população em relação ao primeiro ano de mandato. Para ele, foi dado "um voto de confiança" à presidente, mas, a partir do segundo ano, "virá uma avaliação de maior profundidade". (Colaboraram Raymundo Costa e Bruno Peres)