Título: Depois de um junho fraco, economia acelera em julho
Autor: Lamucci, Sergio e Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Brasil, p. A3

A atividade econômica mostrou recuperação no mês passado, depois de um junho fraco. Setores como os de automóveis, papelão ondulado, aço e comércio de materiais de construção relatam um desempenho positivo dos negócios em julho, indicando um cenário favorável no terceiro trimestre. Mesmo os segmentos que sazonalmente têm uma atividade mais fraca entre julho e setembro apostam num resultado melhor do que no mesmo período de 2005.

Julho foi um mês positivo para o setor de papelão ondulado, na avaliação de Roberto Nicolau Jeha, presidente da Indústria São Roberto. Segundo ele, a expedição do produto cresceu 6% em relação a junho, um mês que havia sido muito fraco. "Eu estou mais otimista em relação ao terceiro trimestre. Julho foi positivo e agosto começou melhor do que julho."

Segundo ele, empresas que fabricam panetones e alimentos intensificaram as encomendas de embalagens. O segmento de brinquedos também já aumentou a demanda, movimento relacionado ao Dia das Crianças, diz Jeha. Para ele, o setor pode ter um aumento de 7% no segundo semestre em relação ao primeiro.

As coisas também foram bem no setor de aços planos. O diretor-presidente da Rio Negro, Carlos Loureiro, estima que em julho a distribuição do produto tenha crescido algo como 13% em relação ao mesmo mês de 2005. Em julho, a Rio Negro aumentou a distribuição em 15% na comparação com o mesmo mês de 2005, que havia sido fraco. Segundo ele, a indústria automobilística continua puxando o desempenho do setor. Em julho, as vendas de automóveis foram as melhores do ano, 21% acima do mesmo mês de 2005.

Apesar do bom desempenho de julho, Loureiro acredita que o terceiro trimestre deverá mostrar uma discreta desaceleração em relação ao segundo. A questão é que outros segmentos além do automobilístico não têm um resultado dos melhores, como o de máquinas agrícolas. A construção civil ligada a obras de infra-estrutura também não mostra uma procura significativa pelo produto. "Na construção, quem vai bem é o setor ligado à habitação". Loureiro projeta um crescimento de 9% na distribuição em 2006. No primeiro semestre, o crescimento foi de 10%.

A venda de materiais de construção, aliás, foi bem em julho. Levantamento feito pela Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) indica um crescimento de 15% a 20% das vendas no mês. "As lojas estão com os movimentos elevados, e o segundo semestre normalmente representa 60% das vendas do ano" , diz Cláudio Conz, presidente da entidade. Para ele, a oferta de crédito é a principal responsável pelo movimento. "Esperamos em 2006 crescimento de 8%."

Segundo Carlos Corazzin, diretor de marketing da Dicico, as vendas de julho foram as melhores do ano. "É a arrancada do segundo semestre, com crescimento de 18% em relação a julho de 2005." Comparado a junho, o crescimento foi de 22%. "Mas junho foi atípico, por causa dos ataques do PCC."

Para Corazzin, esse desempenho está ligado à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e à maior propaganda dos financiamentos para reforma e construção. Segundo ele, o terceiro trimestre historicamente é bom para o setor, só perdendo para o quarto.

Na contramão, Reinaldo Côrrea, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção de São Paulo (Sincomavi), que representa o pequeno varejo do setor, traça um cenário ruim na grande São Paulo. "As vendas de julho foram piores que as de junho, com queda de 12% a 14%", diz. Segundo Côrrea, apesar da maior movimentação no setor, esses ganhos não chegam ao comércio, pois as indústrias vendem direto para as construtoras.

A rede Lojas Cem fechou julho com crescimento de 10% nas vendas, após um semestre de estagnação. Segundo o supervisor geral da rede, Valdemir Colleone, a expectativa é que o terceiro trimestre mantenha esse ritmo de crescimento. "O consumo melhorou de maio para cá, puxado, de início, pelo aumento das vendas de televisores por causa da Copa do Mundo." Para ele, o fato de 2006 ser um ano eleitoral também contribui, assim como os preços baixos.

Os fabricantes de móveis esperam um crescimento das vendas no mercado interno nos próximos meses, após um primeiro semestre de estabilidade. Domingos Rigoni, presidente da Abimóvel, a associação do setor, estima que em julho houve expansão de 5% a 6% na comparação com igual mês de 2005. O bom desempenho, diz, vem das vendas de móveis para as classes mais baixas, beneficiadas pelo crédito.

O problema do setor são as exportações. No primeiro semestre, os embarques de móveis recuaram 11,6%. "As exportações devem cair de 12% a 15% neste ano", diz ele, criticando o câmbio.

No Pólo Industrial de Manaus, que reúne fabricantes de eletroeletrônicos, a expectativa é que o faturamento no terceiro trimestre seja 5% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, segundo o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Maurício Loureiro.

Ele estima que o faturamento de julho tenha ficado estável em relação a julho de 2005. No primeiro semestre, o pólo faturou 27,8% a mais que em igual período de 2005. Loureiro explica que o terceiro trimestre costuma ser sazonalmente mais fraco para a região. Os negócios em julho são prejudicados pelas férias e o Dia dos Pais, uma data que movimenta menos o varejo. As vendas começam a melhorar em setembro, com a chegada das encomendas de Natal.

A indústria de alimentos também tem em julho um mês sazonalmente fraco, em decorrência das férias, diz Denis Ribeiro, diretor do departamento econômico da associação do setor (Abia). Ele acredita que a produção teve um aumento discreto em relação ao mesmo mês de 2005. Segundo Ribeiro, os negócios melhoram em agosto e ganham fôlego em setembro. No primeiro semestre, a produção cresceu 2,94%. Ele prevê uma aceleração desse ritmo, com a produção fechando o ano com expansão de 4% a 4,5%.

Ontem a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou balanço do setor do primeiro semestre: queda real de 2,74% no faturamento. "Para julho os resultados não serão muito diferentes, foi um mês ruim, e isso nos preocupa", diz o presidente da associação João Carlos de Oliveira. O setor prevê um crescimento de 1,5% no ano, mas para Oliveira, esse ainda é um cenário muito otimista.

A inflação baixa dos alimentos - com queda de preços - afetou o faturamento dos supermercados. Os dados mais recentes sobre as vendas físicas, referentes ao primeiro quadrimestre do ano, mostram aumento de 3,5%, enquanto o faturamento real caiu 2,53%.