Título: Competição acirrada
Autor: Filho,Lauro Veiga
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2012, Especial, p. F1

As projeções para o mercado doméstico de produtos siderúrgicos sugerem uma trajetória de crescimento, embalada não só pelas obras para a Copa do Mundo de 2014 e para os jogos olímpicos de 2016, mas especialmente pelo próprio vigor da economia brasileira, pelos grandes projetos previstos para a área de infraestrutura e, adicionalmente, pela demanda relacionada aos investimentos no pré-sal. "O país descobriu que há uma forte defasagem na área de infraestrutura e de logística e que isso precisa ser corrigido", avalia Augusto Espeschit de Almeida, CEO da ArcelorMittal Aços Longos América do Sul.

Independentemente dos eventos programados para os próximos anos, as perspectivas são de uma "boa demanda" no setor siderúrgico, reforça Espeschit. Números do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), citados pela Usiminas na apresentação de suas demonstrações financeiras anuais, indicam que apenas a realização das obras da Copa e da Olimpíada deverão consumir perto de 6,0 milhões de toneladas de aço bruto, dos quais 3,6 milhões de aços longos e 2,4 milhões de aços planos entre 2010 e 2016.

No ano passado, as vendas de aço bruto para o mercado interno, de acordo com dados do Instituto Aço Brasil (IABr), atingiram pouco mais do que 21,4 milhões de toneladas, numa variação de 3,4% frente a 2010, quando já registrara um salto de 29,2% sobre o ano anterior. A produção cresceu 6,8%, somando 35,2 milhões de toneladas, depois de avançar 23,8% um ano antes, no embalo do crescimento do PIB.

Num cenário otimista, avalia Paulo Petroni, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), além do impulso assegurado pelos jogos e pelos investimentos atrelados ao pré-sal, o crescimento da construção civil, do setor automobilístico e da linha branca tendem a assegurar demanda elevada ao longo da década. Essa perspectiva mais favorável tem estimulado previsões de maior crescimento para a produção e para os investimentos.

De acordo com a economista Stefania Grezzana, analista da Tendências Consultoria, algumas siderúrgicas chegaram a postergar investimentos num passado recente, principalmente pelas incertezas no mercado internacional. Na sua visão, o setor terá de retomá-los em algum momento, porque o cenário vislumbrado daqui em diante deixou de ser tão negativo. "Há uma grande demanda desenhada para os próximos anos", aponta Stefania, acrescentando à lista já apresentada por Espeschit e Petroni os programas habitacionais do setor público e investimentos previstos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

A produção nacional de aço bruto, que foi de 35,1 milhões de toneladas no ano passado, deverá aumentar 35,3% nos próximos cinco anos, chegando a 47,5 milhões de toneladas em 2016, segundo a Tendências. Para o ano da Copa está reservada a maior expansão, numa variação projetada em 8,4% na comparação com 2013. Para conseguir realizar a expansão projetada, a indústria siderúrgica terá que realizar investimentos calculados em US$ 30,7 bilhões entre 2011 e 2016, numa média de US$ 5,12 bilhões por ano. Isso significará ampliar o investimento em 52,4% quando se considera que a siderurgia injetou US$ 20,2 bilhões entre 2005 e 2010, segundo o IABr.

Todo esse volume de recursos, prossegue Stefania, deverá ser distribuído entre projetos de ampliação da capacidade instalada, que hoje já soma 44,6 milhões de toneladas de aço bruto por ano, e empreendimentos destinados a assegurar a autossuficiência do setor siderúrgico no suprimento de minério de ferro e de energia.

No caso da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), num exemplo, a mineradora Namisa, da qual a siderúrgica detém 60% do capital, respondeu por 35% das receitas totais do grupo em 2011 e por 55% do resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), com vendas recordes de 29,3 milhões de toneladas de minério de ferro - 16% a mais do que em 2010. Para este ano, as vendas de minério foram estimadas em 32,5 milhões de toneladas pela CSN, alta de 11%, com receitas previstas em R$ 6,99 bilhões, quase 18,5% acima dos R$ 5,9 bilhões realizados pela Namisa em 2011.

Mas nem todo o setor já decidiu disparar investimentos. Embora venha operando com suas plantas já próximas da capacidade total, a ArcelorMittal prefere aguardar uma melhor definição das tendências no mercado internacional antes de pisar no acelerador, adianta Espeschit. "Ainda há um excesso de demanda global, superior a 470 milhões de toneladas de aço, e um quadro de depressão da atividade nas principais economias europeias e nos EUA. Estamos adequando a velocidade de nosso investimento à demanda, mas estamos preparados para retomar qualquer projeto assim que as condições forem outras", afirma ainda.