Título: Seca e clientes endividados dificultam vendas no Sul
Autor: Bueno, Sérgio ; Lima, Marli e Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Brasil, p. A3

A combinação do inverno pouco rigoroso no Sul com o elevado grau de endividamento dos consumidores e os reflexos das sucessivas crises do setor primário (secas em 2004/05 e 2005/06 e baixos preços dos grãos nesta safra) sobre a economia regional freou as vendas da Lojas Colombo, maior rede de varejo de móveis e eletrodomésticos do Rio Grande do Sul, no início do segundo semestre.

Depois de alta acumulada de 2% reais de janeiro a junho, puxado pela Copa do Mundo, em julho os negócios no máximo empataram com o mesmo mês do ano passado, relata o diretor de vendas Arnildo Heimerdinger.

Na rede paranaense Gazin - 125 lojas no interior do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Rondônia - o resultado de julho trouxe algum alento. Segundo o gerente comercial Paulo Florêncio, o desempenho foi melhor que junho e também superior a julho de 2005 -nesse caso a base de comparação é baixa, porque julho do ano passado foi um mês muito ruim. "As vendas aumentaram na segunda quinzena e a expectativa é que o segundo semestre seja melhor", disse Florêncio.

Na Lojas Colombo, "não houve crescimento", conta Heimerdinger. De acordo com ele, com exceção dos produtos de informática, que apresentam acentuada redução de preços nos últimos meses e pularam de 6% para 12% das vendas totais da empresa, os demais segmentos permanecem estagnados e sinalizam crescimento bastante modesto do faturamento deste ano - no máximo 2%, em relação à receita consolidada de R$ 1,48 bilhão, em 2005. Das 352 lojas da rede, cerca de 75% ficam na região Sul, o que aumenta o impacto dos fatores como crise agrícola regional e clima desfavorável.

Com pouco frio e chuva, as vendas de produtos como lavadoras e secadoras pára, explica Heimerdinger. "Junho e julho foram meses secos", lembra. Segundo ele, os consumidores ainda estão, em geral, no limite da capacidade de endividamento e não há condições de reajustes de preços no varejo e na indústria. Como conseqüência, a Colombo também reduziu em cerca de 15% o volume dos estoques desde maio, para a média atual de 50 dias.

A confirmação das previsões da Gazin - de um segundo semestre melhor - também vai depender do comportamento do campo, porque as lojas da rede estão igualmente localizadas em áreas agrícolas. Com a crise provocada pela estiagem e baixo preço dos grãos, a inadimplência aumentou muito. "Vender não é difícil, o que é difícil é vender para o cliente certo", afirmou Florêncio.

Segundo ele, no ano passado, de cada dez consultas ao serviço de proteção de crédito, cerca de quatro apresentavam problemas. Hoje, de cada dez pessoas que vão tentar comprar no crediário, de seis a sete são impedidas por estarem inadimplentes. E 80% das vendas são feitas no crediário.

Na Bahia, o comércio prevê crescimento de 5% nas vendas até o fim do ano, mas o impulso mais forte só deve ocorrer no último trimestre. "O terceiro trimestre é tradicionalmente o mais fraco do ano e não há nenhuma esperança de que isso possa mudar em 2006", diz Carlos Fernando Amaral, da Fecomércio-BA.

Um dos motivos é a ausência do frio, que impulsiona as vendas de vestuário nessa época do ano em outras partes do país. Além disso, a temporada de chuvas em Salvador, que se concentra entre o segundo e o terceiro trimestres do ano, deprime as vendas de outro setor, o de materiais de construção.