Título: Importações voltam a afetar siderúrgicas
Autor: Castro,Gleise
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2012, Especial, p. F3

Depois de encerrarem 2011 com queda de 35,9%, as importações de aço de todos os tipos voltaram a crescer no primeiro bimestre deste ano, de acordo com levantamento do Instituto Aço Brasil (IABr), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As compras externas somaram 658 mil toneladas, com acréscimo de 9,5% ante o mesmo período do ano passado. Em fevereiro, o aumento foi maior, de 24,2% em relação a fevereiro do ano passado.

Em 2011, foram importadas 3,8 milhões de toneladas, no valor de US$ 4,5 bilhões FOB. No primeiro bimestre deste ano, o valor chegou a US$ 803,7 milhões. Esses números incluem aços planos, longos e produtos semi-acabados e transformados e os principais fornecedores localizam-se na Europa e na China.

O setor vem convivendo com aumento das importações desde os últimos anos da década passada e a principal razão apontada pelos ramos que mais compram aço no exterior são os preços praticados no mercado interno, bem acima dos níveis internacionais. No acumulado de 12 meses até fevereiro, os preços do aço medidos pelo IGP-DI acusaram aumento de 4,33%. Na apuração desse índice, eles revelam uma linha contínua de alta desde agosto de 2011. A CSN acredita que ainda há espaço para aumento de 5% a 10% neste ano, em função da demanda aquecida em praticamente todos os setores, desde a construção civil e linha branca até o automobilístico. Já para a Usiminas, os preços do aço devem se manter estáveis no mercado interno em 2012.

A valorização do real e o enfraquecimento da economia na Europa e EUA ajudaram a tornar o aço importado mais competitivo. Os incentivos fiscais de alguns governos estaduais, que oferecem descontos consideráveis no ICMS de importados, funcionaram como um estímulo a mais para o aumento das importações.

Segundo Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) e do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), até o começo da década passada, as importações de aço plano in natura (na forma de bobinas e chapas) não passavam de 5% a 6% do consumo aparente brasileiro. Em 2009, já eram 13% do consumo interno.

Em 2010, houve uma verdadeira invasão de produto importado, que chegou a 23,8% do consumo brasileiro de aço plano in natura, e, de acordo com Loureiro, as siderúrgicas se viram forçadas a baixar os preços, levando as importações a recuarem, em 2011, para uma fatia equivalente a 15% do consumo doméstico. "Até 2007 e parte de 2008, a siderurgia trabalhava lotada, com 90% da capacidade instalada, porque havia demanda mundial e o que não conseguia vender aqui, exportava. Agora, não conseguem exportar por causa do dólar baixo", afirma Loureiro.

"As usinas brasileiras adotaram uma postura mais agressiva no ano passado, com margens de lucro mais apertadas. A diminuição do preço contribuiu diretamente para a redução da entrada de material estrangeiro no país", afirma.

Segundo importadores, o IABr tem movido processos judiciais questionando a qualidade do aço adquirido no exterior para tentar impedir a entrada dos importados. No ano passado, carregamentos de aço importado, especialmente de produtos destinados à construção civil, foram retidos em alguns portos do país. Segundo Rubson Lopes Nogueira, presidente da Cobraço, distribuidora da fabricante espanhola Celsa, "qualquer aço que entrar no Brasil de forma legal, com licença de importação e certificação da ABNT e Inmetro, é, no mínimo, igual ao nacional em nível de qualidade".