Título: Mercado de automóveis vive clima de fim-de-ano
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Brasil, p. A3

Julho ficou com cara de dezembro para o mercado de automóveis este ano. Com o maior volume de vendas mensal registrado até agora em 2006, o resultado lembrou o período em que o brasileiro aproveita o 13º salário para trocar de carro. Os fornecedores das montadoras estão animados com as previsões de encomendas de peças, que indicam volumes constantes de produção de veículos até o final do ano.

O mercado interno continua garantindo o fôlego que as montadoras mantêm a despeito dos prejuízos com a exportação. Não há registros na história recente da indústria automobilística no Brasil de um julho com mercado interno tão bom. Foram vendidos 158,2 mil carros de passeio, um incremento de mais de 21% em comparação com um ano atrás.

"Se pudesse exportar mais o setor ia estourar este ano no Brasil", afirma Wilson Rocha, diretor de vendas e engenharia da TRW , um dos maiores fornecedores da indústria automobilística. Para o consultor de empresas do setor automotivo Richard Dubois, a queda nos juros reduziu as prestações. "E isso é o que interessa para 80% do universo de consumidores que compra carros", afirma.

Os números de produção de veículos serão divulgados pelo setor na segunda-feira. Mas os fornecedores já sabem, com base nos pedidos das montadoras, que o ritmo tende a continuar acelerado.

Segundo Rocha, a programação dos pedidos indica que o Brasil produzirá, num ritmo constante até o final do ano, médias entre 10 mil e 10,5 mil veículos por dia. "Os pedidos estão firmes e nada mostra a possibilidade de qualquer recuo nessa tendência", diz.

Esta é a primeira vez na história recente que toda a cadeia do setor automotivo consegue trabalhar em ritmo de estabilidade durante um ano inteiro, com possibilidade de poder programar a produção e comprar matérias-primas com antecedência.

Assim, o segundo semestre começou num ritmo muito parecido com o primeiro, que foi bom para o setor. Também ao contrário do que normalmente ocorre, as duas metades do ano serão mais ou menos parecidas. Tradicionalmente, no segundo semestre o mercado interno costuma ser melhor que no primeiro por conta da mudança de linha dos carros. Mas o consumidor parece menos preocupado com isso.

Existe uma certa tranqüilidade em relação à sustentação do crescimento no setor. O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) projetou a produção de veículos até 2011. A previsão para este ano é de um volume de 2,560 milhões de veículos, incluindo ônibus e caminhões. O número é próximo ao do ano passado, quando foram produzidos 2,528 milhões de unidades. Já o mercado interno indica até agora uma taxa de crescimento em torno de 10%. Para os anos seguintes, a entidade espera médias de crescimento anual de 4% a 5%.

As atenções do setor se voltam agora para 2007. A grande dúvida é se as fábricas brasileiras recuperarão ou não a capacidade de competir no mercado internacional. Por ora, as montadoras trabalham com expectativa de perder volumes de exportação por conta do impacto dos aumentos de preços, resultado da valorização do real. Já as autopeças, amarradas a contratos antigos, afirmam que exportam com prejuízo.