Título: Brasil e EUA discutem como aumentar negócios
Autor: Leo, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Brasil, p. A5

O fim de dificuldades para obtenção de visto de negócios entre Brasil e Estados Unidos e um programa de redução das barreiras técnicas ao comércio de produtos das cadeias farmacêutica, de carnes e siderúrgica estão entre as principais medidas de aproximação comercial dos dois países, que terão reunião decisiva em outubro, informou ao Valor o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Técnicos dos dois países discutem, desde junho, medidas de facilitação de comércio, normas técnicas e concessão de marcas e patentes, para ampliar o acesso de mercadorias entre os dois parceiros comerciais.

"Nossa meta, visionária, é abrir caminho para dobrar a corrente de comércio entre os dois países, dos quase US$ 50 bilhões atuais para US$ 100 bilhões, até 2010", anunciou Furlan, antecipando-se às metas a serem fixadas pelo governo a ser eleito neste ano. Ele argumenta que as medidas tomadas nos próximos meses terão reflexos nos anos seguintes. Em outubro, ele irá a Washington para seu quarto encontro com o secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, com quem discutirá as propostas em negociação pelos técnicos dos dois governos. "Vamos decidir com base nessas propostas que estarão prontas até outubro", garantiu.

Furlan nega que as iniciativas do ministério sejam uma resposta às críticas de abandono do mercado americano por parte do governo - a Apex, vinculada ao ministério, também está ampliando centros de distribuição de produtos brasileiros no mercado brasileiro, como noticiou o Valor, ontem. O contato estreito mantido pelo ministério e o Departamento de Comércio dos EUA é conseqüência do encontro do ano passado entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, lembra.

Furlan comenta que as restrições nas concessões de vistos dificultam negócios entre os dois países. "Há vistos de uma só entrada: um empresário americano que vá à Argentina e faça escala no Brasil não pode parar no país, na volta", exemplifica. "Os grupos de técnicos estão encontrando maneiras de resolver questões pontuais que atrapalham o comércio e investimento", diz Furlan. "Sabemos que pode aumentar a agilidade em coisas pontuais como regras, barreiras técnicas, vistos de negócios."

"Em carnes de frango, também, um país não vende ao outro por problemas de regulamento, uma barreira técnica que não faz sentido, podemos trabalhar nisso", exemplifica. A equipe do ministério analisa ainda como resolver a queixa das farmacêuticas americanas contra a demora na concessão de marcas e patentes. "Nos dois países, a concessão de patentes e marcas está represada, há muita demanda e mais pedidos entrando que licenças saindo", resume o ministro.

Em setembro, o governo brasileiro trará ao país uma equipe americana do órgão de metrologia dos EUA, o Nist, para resolver as dúvidas e desconfianças americanas em relação ao uso do etanol e do biocombustível, em aspectos como a potência energética e os efeitos sobre os veículos, o meio ambiente e a saúde humana.

O governo quer remover as restrições técnicas ao etanol brasileiro e sabe que enfrentará resistências políticas, lideradas principalmente pelo senador Charles Grassley, que representa os interesses protecionistas dos produtores americanos de milho. Furlan já esteve com o próprio Grassley, em março, e ouviu os planos do senador de transformar os EUA no maior produtor de etanol (de milho) do mundo. Argumentou, sem sucesso, que o setor não tem competitividade em relação ao álcool de cana brasileiro. O setor de etanol, no entanto, atrai investidores americanos interessados em comprar usinas de álcool no Brasil, especialmente fundos de pensão, que Furlan quer estimular a partir das decisões a serem tomadas com Gutierrez, em setembro.

Algumas iniciativas do governo esbarram na pequena escala de produção das firmas brasileiras, que já rejeitaram pedidos em negociações com o gigante de varejo Wal-Mart por não terem como atendê-los, conta Furlan. "Vamos identificar setores onde se possa fazer capacitação e investimento."