Título: Cinco itens explicam alta da exportação
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Brasil, p. A6

Um número cada vez menor de produtos está garantindo o crescimento das exportações brasileiras. No primeiro semestre do ano em relação a igual período em 2005, apenas cinco produtos foram responsáveis por metade do aumento dos embarques do país, segundo levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

O petróleo liderou o grupo, contribuindo com 19,4% do crescimento em valor das vendas externas brasileiras nos primeiros seis meses desse ano em relação a janeiro a junho de 2005, seguido do minério de ferro com 10,4%, óleos combustíveis com 9%, soja com 5,8%, e açúcar com 5% da alta.

O crescimento das exportações estava bem menos concentrado em anos anteriores. No triênio 2003 - 2005, período de forte crescimento das exportações brasileiras, 17 produtos responderam por 50% do aumento dos embarques do país. Além dos cinco itens citados acima, também tiveram contribuição relevante automóveis, carne bovina e de frango, tratores, veículos de carga, entre outros.

Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, dois efeitos explicam a maior concentração das exportações: alta de preços das commodities, que impulsiona petróleo e minério de ferro, e valorização do câmbio, que reduz as quantidades exportadas de têxteis ou móveis. No primeiro semestre do ano, os preços das exportações subiram 11,3%, enquanto a quantidade embarcada avançou apenas 2%. Entre 2003 e 2005, o crescimento acumulado da quantidade atingiu 51%, acima da alta de 30% dos preços.

A Funcex dividiu a pauta de exportação brasileira por intensidade de utilização dos fatores de produção. Os básicos e semi-elaborados foram classificados em agrícolas, minérios e energéticos. Já os manufaturados foram separados em intensivos em trabalho, em capital e em pesquisa e desenvolvimento. "Queremos qualificar o desempenho das exportações brasileiras. Se analisarmos a forma como a exportação está distribuída, não está tudo tão bem", diz Ribeiro.

O levantamento demonstra que o atual vigor das exportações brasileiras está nos produtos energéticos. O valor exportado por esse grupo cresceu impressionantes 110% no primeiro semestre desse ano comparado com o mesmo período de 2005. Embora representassem apenas 6% da pauta de exportações do país em 2005, os produtos energéticos contribuíram com 31,6% do crescimento dos embarques do país no primeiro semestre.

Com o aumento de produção da Petrobras e a escalada de preços no mercado internacional, as exportações de petróleo e óleos combustíveis foram o destaque. O valor exportado do petróleo bruto aumentou 120% no primeiro semestre do ano em relação a igual perído de 2005.

O valor exportado de apenas dois outros grupos de produtos cresceu acima da média de 13,5% do primeiro semestre: minérios (23,3%) e manufaturas intensivas em pesquisa e tecnologia (17%). Entre os minérios, os destaques foram minério de ferro e alumínio bruto, cujas exportações cresceram, respectivamente, 24,1% e 49% no primeiro semestre. Já no caso das manufaturas intensivas em pesquisa e tecnologia, dominaram a pauta: aviões (18,7%) e celulares (13,4%).

Nas demais categorias, o desempenho exportador foi fraco. Os embarques de produtos agrícolas, que cresceram a um ritmo de 21,7% por ano entre 2003 e 2005, avançaram apenas 5,5% no primeiro semestre do ano. Tiveram um performance ruim: óleo de soja (-33,95), farelo de soja (-29,6%), carne suína (-26,5%), carne de frango (-7,8%).

Nas manufaturas intensivas em trabalho, as exportações cresceram 5,3% no primeiro semestre do ano ante igual período em 2005, valor três vezes menor que os 15,2% ao ano entre 2003 e 2005. Registraram queda no valor embarcado no semestre: móveis (-11,4%), vestuário (-20%), roupas de cama, mesa e banho (-13,4%) e calçados (-1,3%). "Certamente o câmbio teve um papel importante nessa desaceleração uma vez que a demanda mundial ainda está forte", diz Ribeiro.

As exportações das manufaturas intensivas em capital cresceram apenas 4% no primeiro semestre, oito vezes menos que a média anual de 32,3% entre 2003 e 2005. Ribeiro credita o fraco desempenho nesse caso à indústria siderúrgica, que enfrenta gargalos de produção. Por outro lado, as exportações em valor do complexo automotivo obtiveram bons resultados, como automóveis (11,7%), autopeças (18,7%), veículos de carga (27,6%), pneus (26,9%) e tratores (24,8%).

Desde o "boom" de exportações, os produtos agrícolas perderam espaço na pauta de exportação, com sua participação caindo de 34,6% em 2002 para 30,7% no acumulado de 12 meses até junho desse ano. Os produtos energéticos e os minérios ganharam, respectivamente, 1,7 e 2,6 pontos percentuais de participação. Os manufaturados também perderam 0,7 ponto percentual.