Título: Vedoin implica governador do Piauí
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Política, p. A7

O empresário Luiz Antônio Vedoin fez detalhado depoimento à CPI das Sanguessugas, ontem, e complicou a vida de diversos políticos investigados pela comissão. Durante sete horas, o dono da Planam, acusado de coordenar todo o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas, aumentou o número de provas, reforçou os laços do esquema com o Ministério da Saúde, deu detalhes de encontros com governadores e explicou como seus funcionários se instalavam nas secretarias de Saúde. O depoimento foi prestado reservadamente na sede da Polícia Federal de Brasília.

"Foi um depoimento elucidativo, firme e verossímil", disse o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). "Alguns deputados dizem que a negociação foi do assessor e não tinham nada a ver com isso. Em diversos casos, Vedoin mostrou e comprovou que os contatos eram com o parlamentar, sim. "O empresário chegou a mostrar ofícios enviados e assinados por um parlamentar a ministérios pedindo a liberação de emendas.

Vedoin também complicou a vida de deputados que teriam recebido dinheiro vivo. Essa prática de repasse de verba é a mais complicada de ser constatada, pois não há qualquer registro bancário para prová-la. "Ele apresentou testemunhas das entregas de dinheiro para quase a metade dos parlamentares acusados de receber em 'cash'", informou o vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE).

O empresário revelou ainda pedido feito por ele para depor novamente à Justiça Federal do Mato Grosso, onde já depôs por nove dias. Pretende acrescentar novos deputados à lista de acusados. "Ele disse que tem deputado que deve dinheiro a ele. Ele preferiu não revelar os nomes desses parlamentares para poder cobrá-los mais à frente", disse o subrelator Júlio Delgado (PSB-MG).

Quem também teve a vida complicada por Vedoin foi o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). O empresário disse ter encontrado o petista em três ocasiões entre 2003 e 2004 para discutir a preparação de editais para a compra de ambulâncias superfaturadas. Reuniões também teriam sido realizadas com o secretário de Saúde do governo de Zeca do PT (MS). Segundo os deputados presentes, Vedoin afirmou que técnicos da empresa passavam 20 dias instalados nas secretarias de Saúde, onde organizavam a realização das licitações.

Nesse contexto, Vedoin explicou porque a empresa não tinha alcance em alguns Estados. Nessas regiões, havia um acerto com outras companhias para evitar confrontos. Cada empresa tinha sua área delimitada onde as demais não poderiam ter acesso. Em um dado momento do depoimento, o empresário explicou como o esquema funcionava em Pernambuco, onde o mercado é controlado pela KM Empreendimentos, de Jaboatão dos Guararapes. Embora tomasse conta do mercado de ambulâncias no estado, disse Vedoin, a KM tinha muita influência no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Na pasta, atuava na área de inclusão digital.

Vedoin contou à CPI que a Planam pretendia diversificar sua carteira de negócios investindo mais na área da inclusão digital via compra e repasse superfaturado de ônibus. O subrelator da CPI, Fernando Gabeira (PV-RJ), acusa o PSB de atuar nessa área. Segundo o deputado, o modelo piloto do ônibus usado para a inclusão digital foi fabricado em Jaboatão. "E a maioria esmagadora das emendas do PSB liberadas foram destinada à aquisição de ônibus para a inclusão digital", diz, ao lembrar também que um programa eleitoral do partido foi gravado num desses veículos. "O PSB aparelhou o MCT para uso político", acusa.

Vedoin também reforçou todas as acusações feitas contra José Airton Cirilo, a quem atribui a intermediação da liberação de R$ 8 milhões que a Saúde devia à Planam. Pela ajuda, Cirilo teria recebido comissão depositada nas contas de Raimundo Lacerda, sobrinho dele, e de José Caubi Diniz. O empresário apresentou cópia dos comprovantes de depósito. "Ele disse que Lacerda e Diniz abriram a conta para receber propina", revelou Júlio Delgado. Cirilo trabalhava diretamente com o ex-ministro da Saúde Humberto Costa. O deputado e subrelator Paulo Rubem Santiago (PT-PE) pediu a expulsão de Cirilo. "Há indícios suficientes para que seja aberto dentro do PT processo disciplinar para expulsar José Airton Cirilo", afirmou.

Durante o depoimento, Vedoin sugeriu à CPI uma investigação profunda na Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ). Em 2005, o município recebeu do governo R$ 18 milhões para a Saúde. O Estado do Rio de Janeiro, por sua vez, levou apenas R$ 12 milhões. O prefeito da cidade é Lindberg Farias (PT). Os contratos no município teriam sido vencidos por uma concorrente da Planam. Segundo Vedoin, pelo menos dois assessores do governo que trabalharam nos ministérios da Saúde e de Relações Institucionais trabalharam para enviar mais verbas à cidade fluminense.