Título: Indústria e crédito provocam corte em projeção de crescimento
Autor: Martins ,Arícia
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2012, Brasil, p. A3

Atentos ao movimento do crédito e da indústria, que não mostram reação forte, mesmo em um ciclo de afrouxamento monetário, os analistas consultados pelo Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, revisaram para baixo as projeções para o crescimento da economia neste ano. O mercado cortou ligeiramente, de 3,23% para 3,20%, as estimativas para o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, segunda queda consecutiva. Para 2013, a revisão para baixo foi maior, de 4,29% para 4,20%.

Após forte queda de 2,1% da produção industrial em janeiro frente a dezembro, feitos os ajustes sazonais, diz Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, os economistas reforçaram as preocupações em relação ao setor industrial e esperam mais um resultado ruim para o dado de fevereiro, a ser divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Os números do mercado para o PIB ainda estão altos e, se eu não perceber uma mínima recuperação da indústria nos próximos meses, é possível que revise para baixo minha projeção", diz Silveira, que trabalha com expansão de 3% do PIB para 2012 e 3,5% para 2013.

"Se houver uma revisão na minha estimativa de 2012, será para baixo", afirma Fabio Ramos, da Quest Investimentos, que mantém a projeção de 3,5% para a alta do PIB este ano. Ramos aponta que há indícios positivos para a economia, tais como um aumento de salários, na esteira do recuo da inflação e do reajuste do salário mínimo, e de uma redução lenta da inadimplência dos consumidores, mas que uma retomada mais consistente depende do canal do crédito. "Se o crédito melhorar, a economia pode crescer com mais força no segundo semestre", diz.

Para 2013, o analista da Quest aposta em elevada herança estatística deixada pelo crescimento da segunda metade de 2012, o que trará o PIB para a casa dos 4% na média do ano que vem. "É estranho revisar para baixo o crescimento de 2013", acredita Ramos.

Para Silveira, que projeta aumento do PIB menor do que o mercado para o próximo ano, o cenário externo continuará a moderar o ritmo da economia doméstica. "Temos fatores bastante adversos relacionados à crise europeia, está nítido que o crescimento chinês será menor e a recuperação titubeante da economia americana fará diferença."

Em relação à taxa de inflação para 2012, o relatório Focus evidencia que a avaliação do BC, segundo a qual o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará ligeiramente abaixo do centro da meta de 4,5% neste ano, não convenceu o mercado. A projeção de alta de 4,4% para o indicador em 2012 foi divulgada quinta-feira no relatório de inflação do BC.

De acordo com as projeções do Focus, o IPCA acumulará neste ano elevação de 5,27%, superando o centro da meta. A diferença entre as estimativas do BC e do mercado, segundo Thiago Curado, da Tendências Consultoria, está em dois pontos principais: o comportamento dos serviços no período e o possível reajuste na gasolina em meados doe ano.

"A previsão do BC só poderia se concretizar se houvesse desaceleração significativa em serviços, e não há nada que indique isso", observa Curado, que prevê aumento de 8,4% nos preços dos serviços neste ano. Em sua projeção de 5,5% para o IPCA, ele incorpora alta de 10% na gasolina nas refinarias, que encareceria em cerca de 4% o combustível para os consumidores.

Pelas contas de Daniel Lima, da Rosenberg & Associados, é possível aumento de até 10% na gasolina nas bombas, o que geraria impacto de 0,4 ponto percentual na inflação de 2012. A consultoria considera baixa a probabilidade de novo corte na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), uma vez que o tributo já foi reduzido de R$ 0,19 para R$ 0,09 por litro no fim do ano passado.

Opinião diversa tem Tatiana Pinheiro, do Santander. Para ela, se houver aumento na gasolina, o governo deverá compensar o reajuste elevando o percentual de álcool no combustível e baixando a Cide, de forma que o impacto para o consumidor seja nulo. "Nesse caso, não descarto a hipótese de o governo zerar a Cide. Isso não geraria um problema fiscal", avalia, contando com alta de 5% no IPCA de 2012.