Título: Cabral opta por 'neutralidade radical'
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Política, p. A9

A veia diplomática do ex-governador do Rio Wellington Moreira Franco vai precisar de muita oxigenação para que ele tenha sucesso na missão para a qual foi despachado de Brasília para o seu Estado anteontem: convencer o senador Sergio Cabral, candidato do PMDB à sucessão estadual, a receber no seu palanque o candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin. "Neutralidade radical", foi como Cabral definiu sua postura para o primeiro turno. "No segundo, ainda vou decidir", completou mais à frente.

Cabral, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o governo fluminense, disse que, pessoalmente, não tem problema para apoiar "candidato A ou B", mas entende que a decisão política mais acertada na atual conjuntura é a neutralidade em relação à corrida ao Palácio do Planalto. "O partido aqui estava muito mobilizado na campanha do (Anthony) Garotinho", explicou.

Garotinho, presidente regional do PMDB e ex-governador do Estado, foi pré-candidato do partido à Presidência, mas acabou não conseguindo a legenda, derrotado por parte da cúpula do partido que preferiu apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. O PMDB do Rio decidiu então liberar seus militantes para apoiar o candidato que preferissem. Aliado de Garotinho, Cabral preferiu a neutralidade, mesmo após o ex-governador declarar seu apoio à candidata do P-SOL, Heloísa Helena.

A posição inflexível de Cabral não assusta Moreira Franco que, matreiro, até a corrobora: "É natural que ele (Cabral) queira ficar em uma posição de neutralidade. É a posição que mais lhe convém", disse ontem à tarde. Esquivo, Moreira afirmou que a sua tarefa é apenas a de compatibilizar interesses.

"A campanha do senador Sergio Cabral, certamente, deve ter pessoas que apóiam Alckmin, as que apóiam Lula e até os que apóiam Heloísa Helena. O que podemos fazer é dar consistência à campanha dos que apóiam Alckmin", disse. Ex-presidente do PMDB fluminense, Moreira Franco garantiu que haverá muitos pemedebistas apoiando o candidato tucano e pede tempo para que os resultados do seu trabalho comecem a aparecer.

Segundo ele, o fato de o PSDB ter um candidato ao governo do Estado, o deputado federal Eduardo Paes, e a coligação que apóia Alckmin ter outra candidata, a também deputada federal Denise Frossard (PPS) não representa obstáculo ao trabalho junto ao PMDB.

"O objetivo maior é a eleição de Geraldo Alckmin, acima das divergências locais", disse Moreira, minimizando também eventuais dificuldades que possam ser apostas pelo prefeito do Rio, Cesar Maia, pefelista tido até agora como o maior cabo eleitoral do tucano no Estado e adversário ferrenho do PMDB regional. Moreira inverte proposição inicial, que é a de conseguir um palanque mais amplo para o candidato do PSDB: "o palanque é do Alckmin", afirma, sem perder a esperança de conseguir que Cabral possa estar presente nele.