Título: Bacelar defende atuação petista na região
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2006, Política, p. A9

A economista e socióloga Tânia Bacelar de Araújo, professora de economia da Universidade Federal de Pernambuco e ex-secretária de Política de Desenvolvimento Regional do governo Lula diz que é uma injustiça chamar de "virtual" a ação do PT no Nordeste, como costuma reproduzir o discurso de campanha do PSDB. "O governo PT fez algo muito real para a população mais pobre."

Este "algo muito real" ocorreu em três frentes, todas confluindo para o bolso da população mais carente. Embora o Nordeste responda por 28% da população brasileira, concentra a metade dos mais pobres. Só de Bolsa Família, isto significa cerca de R$ 5,5 bilhões. "Apesar de ser uma política assistencial, o impacto econômico é muito alto nos pequenos municípios."

O outro componente é a melhora, em termos reais, do salário mínimo. O Nordeste, de novo, tem metade das pessoas que ganham até um mínimo do Brasil. E, finalmente, os preços dos alimentos, que tiveram um aumento mais lento que os preços em geral.

Norte e Nordeste lideram o aumento do consumo popular, lembra a economista, referindo-se à recente pesquisa sobre a variação das vendas do comércio varejista do IBGE. "A população ganhou renda na mão, os trabalhadores tiveram ganho real e o preço dos alimentos não subiu muito rápido", resume. "Na minha leitura, a força de Lula, no povão, acontece porque sua gestão bateu na vida das pessoas."

E os projetos anunciados, como a transposição do São Francisco ou a ferrovia Transnordestina, que não decolam? "A transposição não sai porque é uma briga das elites nordestinas", diz ela. Na Transnordestina, o problema é uma equação financeira complicada que envolve a privatização da rede, a rentabilidade econômica a longo prazo e um modelo de financiamento que envolve o BNDES e o Finor.

Se tivesse que escolher entre um dos dois projetos, a economista ficaria com a Transnordestina. "Ela tem um traçado muito importante para o Nordeste Oriental", diz. "Se não for feita, predominará a Norte e Sul".

A complexidade dos projetos justifica a demora para que saiam do papel. "E o PSDB não foi governo durante oito anos? Porque não fez?".