Título: Mercado brasileiro cria limites ao modelo global
Autor: Heloisa Magalhães e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Empresa, p. B1

As operadoras de telefonia móvel importaram para o Brasil a fórmula usada no mundo todo : expandir ao máximo a base de clientes, num momento inicial, e depois partir para a busca de resultados melhores. As empresas tiraram de letra a primeira parte da lição. O mercado brasileiro tem uma das maiores taxas de crescimento do setor. No entanto, até agora conseguiram pouco sucesso quando o assunto é lucratividade. Todas as operadoras saíram à caça de clientes nas classes de menor poder aquisitivo da população para garantir uma boa fatia no mercado local. "Em países ricos, assegurar participação no mercado dá algum jogo de cintura para oferecer serviços", diz o americano Andy Castonguay, sócio da Telefinance. "Essa estratégia não é adequada à realidade brasileira. Não vai dar resultado positivo", conclui o especialista. Na avaliação de Castonguay, o modelo de negócios para o Brasil tem de ser diferente até mesmo do que é aplicado no restante da América Latina, devido à má distribuição de renda no país. Para contornar o problema, não há milagres, afirma o consultor. Segundo ele, as operadoras terão de reduzir a corrida pelo clientes com poder aquisitivo menor (estratégia que já começou a ser adotada). No próximo ano - ou, o mais tardar, em 2006 - também deve começar a haver um movimento de consolidação no setor. As operadoras que chegaram mais tarde ao mercado são as que apresentam pior situação financeira e, por isso, são as primeiras candidatas à venda. A afirmação é de Paul Groom, também sócio da consultoria. Em algum momento, as teles enfrentarão o desafio de reavaliar sua carteira de assinantes e eliminar parte deles. "Os controladores dessas empresas já fizeram isso lá fora, nas matrizes", observa Groom. Para Castonguay, a busca pela redução de custos ganhará força em 2005. Terceirizar a gestão de parte ou de toda a rede será uma alternativa para as empresas. "É o início de uma nova tendência", afirma o consultor. A Brasil Telecom GSM, que começou a operar em outubro, fechou contrato com a Ericsson no qual a multinacional sueca participa da manutenção da rede. Com exceção da BrT GSM e da Oi (que já nasceram com redes GSM), as demais operadoras estão atualizando sua infra-estrutura do padrão tecnológico TDMA para o GSM ou, no caso da Vivo, para o CDMA.