Título: Companhias trocam a decoração e os cartões de Natal pela solidariedade
Autor: Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Empresa, p. B2

Entre os iluminados arranha-céus da avenida Paulista, um destoa dos demais, mas chama tanta atenção quanto o mais natalino dos prédios: no lugar das tradicionais luzes de Natal, uma grande faixa na sede do Citibank avisa que o dinheiro que seria gasto com decoração será doado a entidades beneficentes. A iniciativa é um exemplo do Natal solidário que é incorporada nessa época por várias empresas. Outra versão do papai Noel solidário são os cartões eletrônicos (enviados por e-mail) que comunicam que os cerca de R$ 10 mil a R$ 15 mil que chegam a ser gastos na compra e postagem de cartões tradicionais foram para o caixa de entidades. Apesar de ter um programa mundial de responsabilidade social, a idéia da faixa foi adotada pelo Citibank brasileiro. Cerca de R$ 30 mil que seriam investidos para incrementar o edifício serão doados ao CitiEsperança, projeto criado por um grupo de funcionários que contribui com várias comunidades carentes. "Adotado" pela diretoria, o programa ganhou caráter institucional e a contrapartida do banco. Para cada R$ 1 doado, a instituição doa mais R$ 1. Em 2000, a arrecadação anual foi de R$ 86 mil e este ano chegou a R$ 500 mil. "A cultura da doação está muito difundida aqui no Brasil e queremos focar cada vez mais nisso", afirma Anthony Ingham, superintendente adjunto de assuntos corporativos e comunicação do Citigroup Brasil. Os formais e conservadores escritórios de advocacia estão abandonando o tradicionalismo - ainda que sob protesto de alguns advogados que tiveram de abdicar da sua assinatura nos cartões de papel - para aderir ao modelo socialmente correto. O pioneiro foi o Machado Meyer Sendacz e Opice, que enviou os cartões digitais pela primeira vez no ano passado. Este ano, outros dois grandes escritórios, o Pinheiro Neto e o Veirano Advogados também adotaram o cartão. "Fomos elogiados pela iniciativa e muitas empresas nos procuraram para saber mais detalhes", diz Carlos José Santos da Silva, diretor de comunicação e relações institucionais do Machado Meyer. No ano passado, o cartão do Machado Meyer, cuja lista inclui cerca de 14 mil nomes, era interativo: quem os recebia podia votar em uma das três instituições (Projeto Quixote, que acabou vencendo, Casa do Menor e Toca de Assis). Este ano, o projeto escolhido foi Teu Sonho, Meu Sonho, uma ONG que ajuda crianças órfãs abandonadas ou sob guarda judicial. Este ano, o Veirano Advogados estréia com o seu cartão eletrônico. A instituição escolhida foi o Doutores da Alegria, que receberá parte dos cerca de R$ 15 mil que a empresa gastou no ano passado com a postagem de 7 mil cartões. Além dos cartões, os brindes enviados pelo escritório são acompanhados de uma etiqueta que também fala da iniciativa. "Está se quebrando um importante paradigma no nosso mercado", diz Kristie Vasconcelos, gerente de RH do escritório. Para os Doutores da Alegria, atores vestidos de palhaços que visitam crianças e adolescentes hospitalizados, esse tipo de iniciativa é interessante não apenas pelo retorno financeiro, como também pela divulgação do programa - já que todos esses cartões divulgam o site das entidades beneficiadas para que as pessoas também possam fazer doações. "A empresa usa a imagem do Doutores, o que é bom, mas exige um certo cuidado da nossa parte", diz Renata Truzzi de Souza, coordenadora de mobilização de recursos da entidade. "Queremos receber um valor justo pela ação que a empresa faz usando nosso nome", completa. O escritório Pinheiro Neto escolheu a Oficina Abrigada de Trabalho - na qual crianças excepcionais fazem reciclagem de papel - para o seu cartão eletrônico. Este ano, a empresa também resolveu mudar o amigo secreto. Os cerca de R$ 50 que eram gastos em presentes foram convertidos na doação de alimentos. O amigo secreto solidário também foi adotado pelos funcionários dos escritórios do Rio e de São Paulo do Clube Med. Crianças da Fundação Romão Duarte, do Rio, recebem vestuário, calçados e brinquedos.