Título: DEM abre processo de expulsão contra Demóstenes
Autor: Peres,Bruno
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2012, Política, p. A11

A comissão executiva do Democratas abre hoje processo de expulsão contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A informação foi dada ontem à noite pelo presidente da sigla, senador José Agripino (RN), após reunir-se, em sua casa, com os deputados Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), líder da bancada na Câmara, e Ronaldo Caiado (GO), um dos vice-presidentes do partido. O vice-governador de Goiás, José Eliton, também participou do encontro.

"O incômodo do partido é um fato que está posto. Até agora não foi feita nenhuma defesa convincente", disse Agripino. Segundo ele, a justificativa para o processo de expulsão é o "reiterado desvio de conduta partidária". O DEM, minguado e desgastado por vários escândalos, quer minimizar o novo desgaste, transmitindo a ideia de não aceitar desvios éticos de seus integrantes. "O partido tinha que tomar uma posição."

Os dirigentes do partido haviam dado ultimato para o senador apresentar, até ontem, explicações convincentes para sua ligação com Carlos Augusto Ramos, empresário conhecido como Carlinhos Cachoeira, acusado de exploração ilegal de jogos de azar.

Demóstenes, no entanto, alegou que precisava tomar conhecimento de tudo o que há contra ele no inquérito da Polícia Federal. Caiado, até então seu aliado político em Goiás, levou a ele o pedido da cúpula do partido para que pedisse desligamento. O senador se negou.

Escutas telefônicas realizadas pela PF revelam que o senador ganhou de Cachoeira presentes e um celular habilitado nos Estados Unidos com sistema para evitar grampos. Outra revelação é que ambos conversaram sobre projetos e outras questões de interesse do contraventor.

Com a opção pela expulsão, Demóstenes espera ganhar tempo, já que o processo não é sumário. A executiva indica um relator, que tem prazo para apresentar seu parecer. O senador, por sua vez, tem direito a apresentar defesa.

No DEM, a pressão maior pela punição do senador é da bancada da Câmara, sobretudo dos candidatos a prefeito - como ACM Neto, em Salvador -, que temem o prejuízo causado pelo escândalo a suas campanhas eleitorais.

"Fico triste porque foi um soldado que tombou. Ao mesmo tempo alegre, porque as instâncias estão funcionando. Pior seria se a podridão ficasse escondida o resto da vida", disse Pedro Taques (PDT-MT), referindo-se principalmente à Polícia Federal, ao Ministério Pública e à imprensa.

O advogado do senador, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que, do ponto de vista jurídico, a permanência dele no DEM não faz diferença. Kakay, como é conhecido, prefere não opinar sobre a questão política do caso. Disse apenas que "é um direito mínimo do cidadão saber o que existe contra ele". Demóstenes recebeu, na sexta-feira, 50 DVDs de mídia do processo e ontem, seis apensos do inquérito, relativos a três anos de escuta telefônica.

A situação política do senador é considerada insustentável não só no DEM, quanto no Senado, onde já há representação do PSOL pedindo abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra Demóstenes, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. "O mandato dele está nas mãos do Conselho de Ética", afirmou Agripino.

Já a Câmara dos Deputados avalia abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a pedido do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), para apurar as relações do empresário com cinco parlamentares: Carlos Leréia (PSDB-GO), Sandes Junior (PP-GO), Stepan Nercessian (PPS-RJ), Rubens Otoni (PT-GO) e o líder do PTB, Jovair Arantes (PTB-GO).

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), aguarda análise técnica do pedido de CPI e a resposta da Procuradoria Geral da República (PGE) sobre quais deputados estão envolvidos para decidir se irá instaurar a comissão.