Título: Economistas veem risco de depressão na Europa
Autor: Thornhill , John
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2012, Internacional, p. A13

Enfim, parece que a primavera chegou à zona euro: é crescente o ânimo nos mercados financeiros, os spreads dos títulos soberanos estão em queda e a tensão nos mercados bancários está cedendo, graças à enorme injeção de liquidez pelo Banco Central Europeu.

Mas Richard Koo, economista-chefe do Nomura, discorda. Ele diz que os líderes europeus diagnosticaram errado a crise e prevê uma volta às condições invernais. Num momento de colapso na demanda do setor privado em vários países, a obsessão com corte de gastos públicos só agravará o problema, diz. É mais provável que o pacto fiscal mate o paciente, em vez de curá-lo.

Por anos, Koo defendeu o ponto de vista bem heterodoxo segundo o qual o Japão adotou políticas adequadas para lidar com o estouro da bolha em sua economia. O país pode não ter crescido muito nas últimas duas décadas, mas evitou o pior: uma depressão ao estilo dos anos 1930, que, diz Koo, agora ameaça a periferia da zona euro.

Koo defende sua teoria de "recessão de balanço patrimonial", contrária à atual ortodoxia europeia. Quando países, como o Japão, sofrem queda no preço de ativos, empresas privadas, bancos e famílias ficam traumatizados e correm para desalavancar seus balanços e pagar suas dívidas. Nesse caso, o governo não tem opção senão elevar o gasto público para evitar um colapso da demanda.

"A última coisa a fazer é o governo reduzir seu déficit", diz ele. "Se os bancos centrais baixam os juros para quase zero e nada acontece, então não é um mundo normal."

Koo diz que quando o Japão deu ouvidos a conselhos de fora, como do FMI, e fez o ajuste fiscal em 1997, acabou recaindo numa grave recessão. "O governo cortou gastos e tivemos cinco trimestres de crescimento negativo. O Japão levou dez anos para se recuperar."

Algumas autoridades europeias mal escondem o desdém ao ouvir Koo. Dizem que é ilusório achar que dá para escolher entre austeridade e crescimento. Austeridade, dizem, é precondição indispensável para o retorno da confiança do mercado e para a economia voltar a crescer. Acumular mais dívida seria contraproducente, ressaltam. Os mercados financeiros não tolerariam nova expansão dos déficits.

Koo admite que a zona do euro, com 17 países, é mais complexa que o Japão, mas diz que o pacto fiscal que força a austeridade sincronizada até dos países mais ricos ameaça repetir os erros do Japão de 15 anos atrás. Ele não acredita que o aumento na captação pública assustaria os mercados: Japão, EUA e Reino Unido promovem políticas fiscais mais relaxadas e conseguem captar a taxas baixas.

A análise de Koo tem defensores. Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, acha que a austeridade fiscal, talvez apropriada para alguns países da zona do euro, não vale para todos. "A forma adequada das políticas de resposta teria sido uma injeção de liquidez gigantesca pelo BCE, o enfraquecimento do euro para recuperar a competitividade [de países] na periferia e um estímulo fiscal [nos países] no núcleo."

Sem tal combinação de políticas, "a Europa poderia ficar pior que o Japão", sugere Roubini.

"O Japão teve uma Grande Recessão e uma Grande Estagnação, mas nunca uma Grande Depressão", diz. "Mas a recessão em alguns países da zona do euro pode se tornar uma depressão, como nos anos 30".