Título: Safra menor de café reduz fatia do Brasil no exterior
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Agronegócios, p. B8

Maior exportador e produtor mundial de café, o Brasil terá um grande desafio em 2005. Com uma produção estimada no país entre 30,7 milhões e 33 milhões de sacas de 60 quilos para a safra 2005/06, ante 38,6 milhões do ciclo anterior, os exportadores brasileiros deverão reduzir em 23% os volumes embarcados no próximo ano, de 26 milhões para 20 milhões de sacas, perdendo sua participação no exterior. O maior desafio será o de manter os mercados conquistados ao longo dos últimos anos, uma vez que países, como Vietnã e os da América Central, serão estimulados a aumentar suas produções por conta dos preços remuneradores do grão no mercado internacional. Somente neste ano, a commodity acumula alta de 55%. Ontem, os contratos futuros para maio fecharam a US$ 1,034 a libra-peso, na bolsa de Nova York. "O Vietnã voltou a aumentar suas exportações no mercado internacional", disse Guilherme Braga Abreu Pires Filho, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). A expectativa é de que os vietnamitas encerrem o ano com quase 15 milhões de sacas embarcadas, um crescimento de 30% sobre as 11,5 milhões de sacas do ano anterior. O país é o segundo maior exportador mundial, seguido pela Colômbia. O avanço do Vietnã preocupa, em um momento em que o Brasil perde significativa participação no mercado internacional. Se confirmadas as exportações brasileiras em 20 milhões de sacas em 2005, ante 26 milhões de sacas negociadas anualmente nos dois últimos anos, a fatia do país nas exportações mundiais cairá de 30% para 24%. "Será o menor embarque dos últimos quatro anos. Com isso, o país abrirá uma brecha de 2,5 milhões de sacas para que outros países avancem", disse Guilherme Braga. A boa notícia é que as receitas com os embarques não serão afetadas, e os preços devem se manter firmes em 2005, segundo analistas. Neste ano, as exportações devem encerrar em US$ 2 bilhões, crescimento de 29% sobre 2003. Braga disse que o preço médio do café embarcado neste ano ficou em US$ 76,90 por saca. Para o próximo ano, a estimativa é de que fiquem em US$ 96 por saca. O governo está mais otimista. Segundo Linneu da Costa Lima, secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, as exportações podem atingir cerca de US$ 2,5 bilhões. Conta a favor do Brasil o fato de o Vietnã ser grande produtor de café robusta, considerado grão de menor qualidade. O Brasil tem escala e participação maior no tipo arábica, tendo a Colômbia como o seu maior concorrente. O ano de 2004 foi um ano positivo para os cafeicultores brasileiros. Além do déficit da produção mundial, após quatro anos ininterruptos de crise, o que provocou uma forte redução dos estoques mundiais, o consumo de café do Brasil deve encerrar o ano em quase 15 milhões de sacas, um crescimento de 7%, ou um milhão de sacas a mais. O Brasil é o segundo maior consumidor de café, atrás dos Estados Unidos. O Vietnã consome cerca de 500 mil sacas por ano e, a Colômbia, 1,3 milhão de sacas. Os cafeicultores também tiveram parte de suas dívidas novamente renegociadas, de novembro deste ano para 31 de janeiro de 2005. Essas dívidas somam R$ 140 milhões e referem-se a custeios de 2002/03 e 2003/04. Segundo Lima, o governo deverá estimular a cafeicultura em 2005.