Título: Alto custo operacional dos bancos eleva spread no Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Finanças, p. C3

Os bancos no Brasil têm os mais elevados custos operacionais entre economias emergentes, depois da Venezuela. Uma das implicações disso é o fato de o país ser campeão mundial de spread bancário, que é a diferença entre o custo do dinheiro quando o banco capta recursos e o valor que cobra quando o empresta.

Quem mostra essa situação é o Banco Internacional de Compensações (BIS), o banco dos bancos centrais, em estudo sobre a evolução do sistema bancário nas economias emergentes publicado ontem na Basiléia (Suíça). Para o BIS, de maneira geral os custos operacionais elevados podem indicar ineficiências significativas no sistema bancário e rígida estrutura de empréstimos, reduzindo o acesso a quem potencialmente precisa de financiamento.

Nas economias emergentes, esse custo ficou na média em 3,5% dos ativos totais dos bancos em 2003-2005, mais alto do que 1% no sistema bancário do Japão e da Alemanha e de 3% nos Estados Unidos. No Brasil, essa despesa é ainda maior: representava 6,1% dos ativos totais das instituições bancárias em 2004, só superado pela Venezuela (6,3%), num grupo de 22 maiores economias emergentes.

Isso ajuda a explicar a persistência de alta margem na intermediação. Economistas do banco se referem ao "caso talvez mais extremo de altos spreads" , para citar percentual de 40% no Brasil, enquanto em várias outros emergentes são mais baixos e comparáveis a taxa de nações desenvolvidas.

O BIS se apóia em estimativas de Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central do Brasil, para destrinchar o spread nacional: 45% do total representava em 2004 a percepção de risco pelos bancos - mas outros 40% se referiam a custos administrativos e taxas. Essas despesas podem representar também maior concentração no sistema bancário brasileiro, segundo outro autor citado pelo banco.

Os custos operacionais no Brasil já foram ainda maiores: chegaram a 7,4% do total dos ativos em 1999, comparado a 10,2% na Venezuela. Embora essas despesas tenham caído nos últimos cinco anos, continuaram mais elevadas na América Latina do que na Ásia. Na China, representam 1,1% dos ativos e na Índia, 2,3%.

O estudo examina a disposição dos bancos para emprestarem com base em dois pontos adicionais. O primeiro é o índice de capitalização média do sistema bancário nos emergentes, que excedeu 14% em 2004 comparado a 13% cinco anos antes. No Brasil, passou de 15,5% para 18,2% no período. A conclusão é que a baixa expansão dos créditos até recentemente não era por causa de baixa base de capital dos bancos.

O outro ponto examinado pelo estudo foi o total do calote sofrido pelos bancos. Os dados recolhidos pelos economistas do BIS mostram que o calote caiu em vários países nos últimos cinco anos. Não cita dados de 1999 do Brasil, que em 2004 representava 2,7% do total financiado, comparado a 12,7 nas Filipinas, 6% na China, 8,5% na Tailândia e 18,9% na Argentina.