Título: Lucro do Bradesco cresce 19,5% para R$ 3,1 bilhões
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Finanças, p. C8

O Bradesco teve um lucro líquido de R$ 1,602 bilhão no segundo trimestre, acumulando R$ 3,132 bilhões no semestre. O resultado é 19,5% superior ao de 2,621 bilhões no primeiro semestre de 2005 e foi alavancado pela escalada das operações de crédito. "Apesar da queda do juro e da grande concorrência tivemos um resultado recorde com o crescimento do crédito e o controle das despesas", sintetizou o presidente do Bradesco, Marcio Cypriano.

As ações preferenciais do Bradesco caíram 2,43% para R$ 72,15, ontem, dia em que o índice Bovespa fechou em baixa de 0,39%. Para os analistas do Banco Pactual e da corretora Unibanco, a queda dos juros e o aumento da inadimplência prejudicaram os resultados do Bradesco assim como haviam influenciado os números do Itaú, divulgados na semana passada. Em 2005, lembrou o analista do Pactual, houve uma "combinação única", de juros elevados com baixa inadimplência - o que não está se repetindo neste ano.

O Bradesco, porém, assim como o Itaú, afirmou que já contava com o aumento da inadimplência em consequência da expansão do crédito em linhas de maior risco.

Conforme explicou o vice-presidente Milton Vargas, o importante é olhar a margem financeira líquida, conta gerencial obtida pela diferença entre a margem bruta - receita de crédito menos despesas com captação - e as provisões para devedores duvidosos (PDD) líquidas. "A conta mostra que as perdas com crédito aumentaram mas as receitas cresceram e compensam. Isso é o que importa", disse Vargas. Segundo o banco, a margem líquida ficou em R$ 1,711 bilhão no segundo trimestre, acima do R$ 1,612 bilhão do primeiro e acima do R$ 1,539 bilhão de igual trimestre de 2005.

A carteira de crédito do maior banco privado brasileiro cresceu 27,02% de junho de 2005 para junho passando, quando atingiu R$ 88,643 bilhões. Incluindo avais e fianças, atingiu R$ 102 bilhões. No sistema financeiro, o volume de crédito com recursos livres cresceu 25,5% no período. A carteira de pessoas jurídicas do banco aumentou 18,95% para R$ 51,1 bilhões, abaixo dos 21,4% do sistema.

Mas, as operações com pessoas físicas cresceram mais, 39,94% para R$ 37,56 bilhões, em comparação com 30,3% na média do sistema financeiro. Algumas linhas registraram expansão ainda maior. O financiamento ao consumo aumentou 47,3% para R$ 32,310 bilhões (41,5% sem considerar a aquisição do American Express). Somente o leasing saltou 248,9% para R$ 642 milhões; o cartão de crédito, 74,3% para R$ 4,2 bilhões; e o financiamento de bens, 68,5% para R$ 2,164 bilhões.

Em consequência da expansão do crédito de varejo, o índice de inadimplência, medido pela relação entre as operações com atraso acima de 90 dias e a carteira total, atingiu 4,2% em junho, sendo 2,3% para pessoas jurídicas e 6,8% para pessoas físicas. Em junho de 2005, o índice médio era um ponto inferior, de 3,2%; e o da pessoa física, de 5,2%.

Por conta disso, o Bradesco aumentou as despesas com provisões para devedores duvidosos em 71,6% para R$ 2 bilhões no semestre, elevando o saldo da conta em 31,1% para R$ 5,833 bilhões. O índice de cobertura diminuiu de 198,2% para 156,6%.

O Bradesco não vê necessidade de desacelerar as concessões de crédito diante do aumento da inadimplência não só porque a margem está compensando, como afirmou Vargas, mas também porque se sente confortável com sua tecnologia de emprestar dinheiro. Esse conhecimento, disse Cypriano, veio das empresas especializadas adquiridas, desde a Continental, na década de 90, até a Morada e a Finasa, mais recentemente.

Apesar da expansão da carteira, o crédito manteve a participação 23% no mix do resultado do banco, o mesmo percentual registrado no primeiro semestre de 2005. As receitas de serviços também tiveram a participação estável em 25%; e a de títulos e valores mobiliários manteve os 11%. As atividades de seguros aumentaram, porém, sua contribuição de 31% para 33%, enquanto a captação recuou de 10% para 8%. (Leia mais nesta página).

O Bradesco teve duas receitas não recorrentes no segundo semestre: R$ 99 milhões da venda de 35% da Fidelity e R$ 84 milhões da venda da participação parcial da participação na American Banknote. Esse ganhos foram neutralizados pela amortização de R$ 192 milhões em ágio.