Título: Suspeita de aftosa põe MS em alerta
Autor: De São Paulo
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2004, Agronegócios, p. B8

No momento em que o Brasil tenta resolver o impasse com a Rússia sobre o embargo às carnes por causa da ocorrência de febre aftosa no Amazonas, surge a suspeita de um foco da doença no Mato Grosso do Sul. Os animais com suspeita de contaminação foram localizados numa área no município de Paranhos, a 470 quilômetros de Campo Grande, na fronteira do Estado com o departamento de Amambai, no Paraguai. De acordo com Gete Ottaño da Rosa, diretor-presidente do Iagro - Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do Mato Grosso do Sul, a área, com cerca de 20 hectares, está na fronteira seca com o Paraguai e é parte de uma propriedade maior que se estende até o país vizinho, onde há outros 1 mil hectares. O proprietário é um "brasiguaio". Rosa informou que, após denúncia anônima recebida por telefone do Paraguai, no fim de novembro, os técnicos do Iagro coletaram material para sorologia dos animais na área, que foi interditada. De 53 cabeças de gado bovinos testadas, 28 tiveram resultado positivo para aftosa. No entanto, segundo Rosa, o resultado não é definitivo. Ele explicou que os animais haviam sido vacinados contra aftosa quatro dias antes da coleta do material. Dessa forma, o resultado pode ter dado positivo porque a vacina contém anticorpos da doença. Suínos testados na mesma propriedade tiveram resultado negativo. Para que não haja dúvidas, o Iagro recorreu a outro exame, que consiste na coleta de material da região da faringe e do esôfago dos 28 animais que tiveram sorologia positiva para aftosa. Conforme Rosa, o material foi enviado para o laboratório do Ministério da Agricultura em Belém (PA) ontem, e o resultado deve sair em 20 dias. O diretor do Iagro acredita que os novos testes indicarão resultado negativo para aftosa, já que os animais supostamente contaminados não apresentavam sinais clínicos da doença. Além disso, o fato de o teste com os suínos ter dado negativo também indicaria que a doença não existe na área. "Os suínos são muito sensíveis à aftosa", observou. Ele preferiu não comentar a hipótese de um resultado positivo, que poderia significar novos problemas para as vendas brasileiras de carne no exterior. Segundo Rosa, o controle contra a aftosa numa área de 50 quilômetros de fronteira com o Paraguai é constante. "Mas não temos controle do trabalho deles [dos paraguaios]", admitiu. Ele acrescentou que a origem dos animais está sendo investigada, pois há suspeita de contrabando do Paraguai. Se isso se confirmar, o Brasil poderia recorrer ao abate sanitário dos animais. Fontes do setor não descartam que a denúncia anônima possa ser uma represália paraguaia, já que em setembro uma denúncia brasileira falava em aftosa em território paraguaio. Na ocasião, o governo do país informou que a doença que atacou o rebanho era rinotraqueíte, que tem sintomas parecidos com os da aftosa. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (reúne exportadores de suínos), e ex-presidente do Fundepec, disse esperar que a sorologia positiva tenha sido reação à vacina. Mas afirmou que um eventual resultado positivo deve servir de alerta para o país. "Aftosa não se resolve com discurso , é com dinheiro. Faltou dinheiro em 2003 e em 2004, e sem dinheiro não se faz vigilância sanitária".