Título: Exames levantam nova suspeita de aftosa no MS
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Agronegócios, p. B12

O fantasma da febre aftosa voltou a assombrar a pecuária de Mato Grosso do Sul. Resultados parciais de testes feitos pelo Laboratório Nacional Agropecuário de Porto Alegre (RS) deram positivo para a doença. "Alguns animais deram resultado reagente para [proteínas não-estruturais do vírus da] aftosa. Mas não significa ainda que tenhamos atividade viral na região", admitiu o superintendente do Ministério da Agricultura no Estado, José Antonio Felício. "Nossas equipes não constataram nenhum sinal clínico da doença no campo".

Nos bastidores, entretanto, os fiscais do ministério dão como certo este segundo "repique" da doença na "zona de risco" da região de Japorã, Eldorado e Mundo Novo. O novo material em análise foi coletado no início deste mês em animais remanescentes de fora da "zona de risco", onde foram identificados 33 focos de aftosa em outubro de 2005. Em 20 de abril deste ano, um "repique" da aftosa foi confirmado em Japorã. Uma missão da Rússia está na região para avaliar as medidas de controle da aftosa adotadas pelo governo. A Rússia está entre os 59 países que embargaram a compra de carne bovina brasileira desde 2005.

O diretor de Defesa Animal do ministério, Jamil Gomes de Souza, pediu cautela e disse que os resultados finais só serão conhecidos nesta sexta-feira. "Há milhares de amostras sob análise. Não temos nenhuma confirmação oficial. É preciso saber se esse material tem mesmo algum vínculo com aftosa". No total, já foram sacrificados 33,7 mil bovinos desde 2005 na região.

Felício informou que os fiscais federais terão que voltar a campo para coletar novas amostrar e fazer um exame mais apurado, o chamado Probang. A origem da doença, como sempre, continua um mistério. "Ninguém sabe de onde veio. Mas será que não é um resquício da vacinação feita por um pecuarista desesperado neste ano?", questionou Felício.

Em meio ao possível ressurgimento da aftosa em Mato Grosso do Sul, o ministério está preocupado com um possível novo foco da doença no Paraguai. Ainda sem confirmação, o foco teria ocorrido no departamento de San Pedro, a 40 km da fronteira com Mato Grosso do Sul. "Soubemos disso na semana passada e pedimos explicações ao governo paraguaio. Até agora, não recebemos nenhuma resposta oficial", disse o diretor de Programa da Secretaria de Defesa Agropecuária, Jorge Caetano.

O Serviço Nacional de Sanidade Animal do Paraguai (Senacsa) tem negado as suspeitas em conversas informais. "Eles dizem que não tem nada a ver com aftosa", afirmou o superintendente Felício. "Mas estamos muito preocupados com a possibilidade".

O governo de Mato Grosso do Sul deve ampliar a vigilância na região da fronteira com o Paraguai. "O problema é que são 400 km de fronteira seca", admitiu Felício. Segundo ele, o Ministério da Agricultura não participará, por enquanto, das ações de fiscalização da fronteira. "Mas se precisar, traremos fiscais de outros Estados".

Além do problema sanitário, o ministério enfrenta uma questão política. José Felício pediu sua exoneração do cargo em função de pressões por engajamento nas eleições. "Seria um 'traíra' se participasse. Sou filiado ao PT, mas não vou trabalhar pelo Lula nem pelo Delcídio [Amaral, candidato ao governo]. Por isso, vou deixar o cargo", afirmou Felício.