Título: Soja terá área menor no ciclo 2006/07
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Agronegócios, p. B12

O plantio de soja na safra 2006/07 deverá ocupar uma área até 14,5% inferior à utilizada no ciclo atual, conforme estimativas feitas por analistas do setor. Se for concretizada, a redução será recorde. No ciclo 2005/06, a área plantada no país sofreu redução de 4,7%.

A Agência Rural e a Tetras Corretora estimam uma redução na área plantada de 6% no novo ciclo, para 20,77 milhões de hectares. A Safras&Mercado estima redução de área próxima a 8% e a Agroconsult, mais pessimista, trabalha com cenário de redução de até 14,5% na área, para 18,975 milhões de hectares.

As consultorias trabalham com produtividade média entre 40 e 45 sacas por hectare e produção entre 48,9 milhões a 55 milhões de toneladas, ante os 53,366 milhões de toneladas efetivamente colhidos no atual ciclo, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os cálculos não levam em consideração possíveis perdas por problemas climáticos ou pelo avanço do fungo da ferrugem.

Renato Sayeg, analista da Tetras, cita como fatores responsáveis pela redução de área o alto nível de endividamento dos produtores, crédito privado mais restrito, câmbio desfavorável e queda no preço médio da soja no mercado interno de 13% a 14% no primeiro semestre. "A cultura ainda é a que apresenta mais opções de crédito privado, custo de produção menor em relação ao milho e ao algodão e maior liquidez", afirma Sayeg.

Fernando Muraro, analista da Agência Rural, observa que a redução de área se dará principalmente em regiões de fronteira agrícola, que demandam uso mais intensivo de insumos, principalmente no Centro-Oeste do país. "Além dos problemas de câmbio e rentabilidade, o custo de transporte até o porto de Paranaguá inviabiliza o plantio em algumas regiões", afirma Muraro. Ele diz que o custo para levar a soja do Mato Grosso até o porto é de US$ 5 por saca, quando o grão é vendido no Paraná a US$ 13. A rentabilidade média no Mato Grosso, segundo ele, ficará negativa em 15% na próxima safra.

Fabio Meneghin, analista da Agroconsult, diz que partes das áreas usadas para soja na safra passada no Centro-Oeste devem ser substituídas por pecuária, algodão, cana-de-açúcar e arroz.

Em Minas Gerais e São Paulo, segundo Flávio França Júnior, da Safras&Mercado, a cultura será em parte substituída pela cana e, na Bahia, pelo algodão. As consultorias prevêem recuperação de área no Sul do País, especialmente Paraná e Rio Grande do Sul. A rentabilidade da soja, nesses Estados, deve ficar positiva no próximo ciclo.