Título: A busca ilegal por votos
Autor: Rizzo, Alana; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 02/10/2010, Política, p. 10

Na semana que antecede o pleito, governadores que tentam a reeleição colocam a máquina pública a serviço das próprias campanhas

Nessa reta final de campanha, governadores que tentarão a reeleição no domingo estão apostando no uso da máquina pública para ganhar votos. Exemplos considerados abusivos estão espalhados de Norte a Sul do país. Esta semana, por exemplo, candidatos participaram de inaugurações de projetos de casas populares, fizeram visitas a obras e não perderam a chance de lotar as páginas oficiais dos estados de notícias sobre a chegada de recursos financeiros às respectivas unidades da Federação. Práticas como essas são ilegais e têm sido fiscalizadas com lupa pelos promotores eleitorais.

Apesar dos riscos jurídicos, os candidatos parecem apostar que o custo-benefício vale a pena. Tanto que políticos denunciados por praticar irregularidades assistencialistas às vésperas de pleitos anteriores têm usado a punição como argumento para pedir votos.

Desafiando as proibições eleitorais, a campanha da governadora Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão é uma das que apela para a concessão de benesses. Lá, a empresa de energia do estado substituiu geladeiras velhas por aparelhos novos e um grande evento com a presença da peemedebista marcou a entrega de apartamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) à população.

O Ministério Público Federal do estado também investiga a convocação de pessoas em busca de emprego que levaram currículos a um estádio de futebol de São Luís (MA). Segundo as denúncias, a promessa era de emprego em uma refinaria. Estamos realizando diligências e apurando para conferir se há abuso no uso da máquina pública e se há o favorecimento de algum candidato. As eleições estavam tranquilas no estado, só que, nos últimos 10 dias, estamos tendo muitas denúncias, afirma a procuradora eleitoral Carolina da Hora.

No Pará, Ana Júlia Carepa (PT) também tem conciliado a agenda de governadora com a campanha política. Esta semana, ela aproveitou a visita a um hospital público recém-inaugurado em Breves, na Ilha do Marajó, para pedir votos.

No Ceará, o governo de Cid Gomes (PSB) inaugurou, na quarta-feira, uma policlínica para os moradores de Camocim, no interior do estado. A unidade vai atender moradores de outras quatro cidades e é uma importante região que concentra votos em potencial. Desde o início do mandato, o socialista tem mantido uma relação próxima com a cidade e reuniu mais de 10 mil pessoas em um comício. Também estava marcada para essa reta final a inauguração de três pistas de skate, uma delas em Camocim. O campeão mundial no esporte, Sandro Dias, foi convidado para executar as primeiras manobras nas pistas de Fortaleza, de São Benedito e de Camocim.

Repasses A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), também candidata à reeleição, abriu o saco de bondades e autorizou diversos repasses financeiros. Entre eles, R$ 238,8 mil para reformas em uma escola com quase 2 mil alunos, R$ 700 mil para a aquisição de equipamentos e a reforma de seis instituições hospitalares e R$ 40,2 mil para a impressão de apostilas para cursos técnicos.

Segundo o Ministério Público Federal, Yeda já foi alvo de uma ação por propaganda extemporânea em uma estatal. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) julgou procedente a ação. A Procuradoria Eleitoral da República afirma que os governantes devem continuar informando sobre atos de governo. Entretanto, não pode haver promoção pessoal. No site oficial do governo gaúcho, Yeda aparece em praticamente todas as notícias.

Em Roraima, informações sobre as melhorias do estado nos últimos anos dão uma força na campanha do candidato à reeleição Anchieta Júnior (PSDB). Em Mato Grosso do Sul, o tom eleitoral se misturou ao atendimento emergencial da população atingida pelas fortes chuvas. Cestas básicas estão sendo distribuídas por políticos.

Vantagens eleitorais Se a concessão de benesses rende votos, o candidato ao Senado Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) quer colher os frutos. Com o mandato de governador cassado e incluído entre os fichas sujas sob a acusação de ter distribuído 35 mil cheques a cidadãos carentes durante a campanha eleitoral de 2006, ele fala diversas vezes em seu programa eleitoral que a punição a qual foi submetido é resultado da sua boa vontade com os mais pobres.

O ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (PDT), que tenta voltar ao cargo, também tem cobrado os votos dos que se beneficiaram das suas iniciativas durante a campanha passada. Depois de ter a candidatura questionada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AL), ele foi à TV dizer que a perseguição que sofreu foi resultado do reajuste que concedeu aos professores da rede pública. Sempre completa o raciocínio pedindo ajuda aos professores e afirmando que faria tudo de novo. Na noite de quinta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou a candidatura do pedetista.

"As eleições estavam tranquilas no estado, só que, nos últimos 10 dias, estamos tendo muitas denúncias Carolina da Hora, procuradora eleitoral do Maranhão

O número R$ 238 mil Valor do repasse que o governo de Yeda Crusius fez para a reforma de uma escola esta semana