Título: Tecnologia do bicombustível será transferida a africanos
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Brasil, p. A5

O acordo para intercâmbio comercial de veículos entre o Brasil e a África do Sul começará a ser desenhado nos dias 24 e 25 de agosto. Com reuniões com governo e empresários em Johannesburgo e Pretória, a missão que sairá do Brasil para o encontro terá um diferencial: será formada por representantes de toda a cadeia de produção de motores bicombustíveis. A idéia é transferir para os sul-africanos a tecnologia brasileira no desenvolvimento de carros que rodam com gasolina ou álcool.

A missão, que está sendo organizada também pelo Ministério das Relações Exteriores, contará com representantes da indústria de veículos, de máquinas agrícolas e de autopeças, além de usineiros e representantes do governo. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, o objetivo é começar a desenvolver um mercado mundial para o combustível derivado da cana-de-açúcar.

"Ninguém quer ficar dependendo de um único país", afirma o dirigente. "Com a criação de um mercado mundial para o etanol é possível incentivar as exportações do produto, o que regulará os preços", completa.

Segundo Golfarb, a África do Sul tem solo e clima favoráveis à plantação da cana-de-açúcar. Mas há pouco desenvolvimento no assunto. "O que passou a ser o dia-a-dia no Brasil ainda é novidade em outros países."

A busca por energias alternativas ao uso do petróleo é um objetivo mundial. Na Europa, o álcool combustível é extraído da beterraba. Nos Estados Unidos, o produto é obtido a partir do milho.

A produção de veículos na África do Sul - único país do continente africano com a indústria automobilística desenvolvida - está em torno de 550 mil unidades por ano. O volume equivale a um quinto da produção Brasil, mas é superior ao que faz a Argentina. Deste total, cerca de 450 mil ficam no mercado interno.

Boa parte dos carros produzidos na África é montada em fábricas das mesmas multinacionais que atuam no Brasil -- como General Motors e Volkswagen. Os modelos de luxo são feitos com componentes importados da Europa e os compactos com peças fabricadas no Brasil.

A Anfavea pretende fechar com os sul-africanos um acordo de intercâmbio semelhante ao que existe com a Argentina e México. No comércio de veículos com esses países, os carros ficam isentos de Imposto de Importação, que hoje é de 35% no Brasil.

O Brasil já conta com mais de 1,5 milhão de carros que podem ser abastecidos com gasolina, álcool ou a mistura de ambos em qualquer proporção. O programa do motor bicombustível foi criado em 2003. A participação dos modelos com esse motor nas vendas totais de automóveis entre janeiro e julho deste ano atingiu 76,3%.