Título: Furlan prevê superávit de US$ 42 bilhões este ano
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Brasil, p. A5

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, estimou ontem, pela primeira vez, que o superávit da balança comercial brasileira deve atingir US$ 42 bilhões em 2006. A projeção está em linha com as estimativas do mercado e representa leve queda de 6% em relação aos US$ 44, 8 bilhões obtidos em 2005.

Caso a previsão se confirme, será a primeira redução do saldo da balança desde 2001, quando o país reverteu seis anos consecutivos de déficit em superávit de cerca de US$ 2,6 bilhões. Desde então, o Brasil melhorou significativamente as contas externas.

Furlan não está preocupado com a mudança de tendência. Após participar de almoço com empresários em São Paulo, o ministro afirmou que o Brasil "não precisa" de um superávit dessa magnitude e que algo entre US$ 30 bilhões e US$ 35 bilhões seria "mais do que suficiente". "Temos uma grande folga para aumento da importação", disse.

Furlan explicou que o atual superávit foi gerado em um momento de "grande esforço exportador" e de "falta de demanda do mercado interno". Para ele, é natural que a importação cresça em um cenário de recuperação da demanda, com aumento da renda, queda de juros e maior disponibilidade de crédito.

Furlan estimou que as importações brasileiras devem fechar o ano em US$ 90 bilhões, alta de 23% ante os US$ 73 bilhões em 2005. O ritmo de crescimento das importações é superior ao das exportações. Ele manteve a meta de exportar US$ 132 bilhões este ano, o que significa alta de 13% em relação a 2005.

Para o ministro, os resultados das exportações ainda são favoráveis, apesar do câmbio. Furlan destacou o bom desempenho dos setores de material de transporte e petróleo e derivados. Ele estima que o setor de petróleo representará um acréscimo de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões para o saldo da balança.

Furlan admitiu que os setores de móveis, calçados, confecções e autopeças - que trabalham com insumos nacionais e utilizam muita mão-de-obra - estão sofrendo com o câmbio. Mas ressaltou que o efeito do câmbio é neutro para os setores que conseguem reajustar preços.

O MDIC divulgou ontem os resultados da balança comercial da primeira semana de agosto. As exportações somaram US$ 2,385 bilhões no período e as importações, US$ 1,732 bilhão. Pelo critério da média diária, significa alta de 20,9% e 29,4%, respectivamente. Em parte, os bons resultados são conseqüência do fim da greve da Receita Federal.

Uma das maiores reclamações do empresariado é a invasão de produtos chineses. O secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, viaja pra Pequim no domingo. Ele permanecerá uma semana tentando negociar com os chineses um acordo de restrição das importações de brinquedos.

Os fabricantes de brinquedos entregaram uma petição de salvaguarda para o governo, que ainda não foi aceita. Durante 10 anos, o setor se beneficiou de uma salvaguarda, que só expirou recentemente. Como esse é o prazo máximo permitido pela Organização Mundial de Comércio (OMC), um novo processo poderia provocar polêmica. "Antes de tomar medidas drásticas, sempre vamos buscar a negociação com a China", disse Furlan. O governo também negocia, ainda sem sucesso, restrição para as importações de escovas de cabelos, óculos e pedivela de bicicleta.

O ministro também comentou a ameaça dos Estados Unidos de retirar o Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP). "Medidas unilaterais são sempre uma má opção", disse. Ele acrescentou que esse tipo de restrição pode atrapalhar as relações bilaterais.