Título: Doações repassadas a aliados
Autor: Vaz, Lúcio
Fonte: Correio Braziliense, 02/10/2010, Política, p. 12

Dobradinhas levam candidatos a deputado federal e a governos a distribuir contribuições recebidas para colegas que disputam vaga no Legislativo estadual

A tradicional ajuda financeira entre candidatos pode ser acompanhada pelos registros das doações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há dois tipos de auxílio: de candidatos a cargos majoritários a concorrentes a vagas no Legislativo ou de deputados federais para estaduais que fazem a chamada dobradinha. Pelo menos R$ 39,2 milhões em doações a outros candidatos já foram contabilizadas no TSE. Isso significa que os candidatos receberam contribuições de empresas ou de pessoas físicas e repassaram parte desses recursos a aliados na disputa eleitoral.

A maior parte (R$ 17,4 milhões) saiu do caixa de candidatos a deputado federal. O campeão deles é o empresário e deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), que recebeu doações de R$ 1,5 milhão e gastou R$ 1 milhão até agora R$ 914 mil foram repassados para outros candidatos. Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) é o segundo colocado na lista. Dos R$ 959 mil que já gastou até agora, R$ 760 mil pararam na conta de outros candidatos. As suas doações somaram R$ 1,3 milhão.

Leréia explicou ao Correio por que repassou essas contribuições: A minha campanha é cara porque estou dobrando com vários deputados estaduais. Das minhas doações, estou repassando 70%. Mas presto conta de tudo. Recebi muitas contribuições e ainda vou ficar devendo.

O deputado Wilson Picler (PDT-PR) tem uma das campanhas mais caras, com R$ 2,4 milhões já arrecadados. Ele repassou R$ 369 mil para candidatos a deputado estadual. São as dobradas. Repasso dinheiro da minha campanha para a deles. É acordado com cada deputado. Eles querem ajuda sempre, comentou o parlamentar.

Majoritários O governador André Puccinelli (PMDB-MS), candidato à reeleição, repassou a aliados mais da metade das doações recebidas, num total de R$ 8,2 milhões. Ele colocou R$ 4,5 milhões nas contas de candidatos a cargos proporcionais. Isso representa mais da metade de todas as contribuições feitas a deputados federais e a estaduais no estado (R$ 8,2 milhões).

No Paraná, o candidato ao governo pelo PDT, senador Osmar Dias, recebeu R$ 13,2 milhões de contribuições e repassou R$ 4 milhões para aliados. Segundo a coordenação da sua campanha, o dinheiro não foi entregue individualmente a cada candidato aliado, mas ao comitê de campanha unificado. Assim, os recursos são utilizados para cobrir as despesas com os programas de rádio e de televisão, com material impresso e com aluguel de carros. Cada um dos favorecidos declara um valor estimado para as doações que recebe.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS), que tenta a reeleição, é o líder nas doações a outros candidatos entre os que disputam uma vaga no Senado. Ele recebeu R$ 3,1 milhões e distribuiu R$ 1,6 milhão entre os postulantes a deputados que o apoiam. Isso representa 65% do total já gasto (R$ 2,4 milhões). O senador explica para onde vai esse dinheiro: Normalmente, é para quem dobra com você. Um deputado que me apoia tem a estrutura dele, mas eu o ajudo fazendo doações oficiais. Ele usa esse dinheiro para confeccionar material, contratar cabos eleitorais e gastos com combustível e aluguel de carros, por exemplo.

"A minha campanha é cara porque estou dobrando com vários deputados estaduais. Das minhas doações, estou repassando 70%. Mas presto conta de tudo. Recebi muitas contribuições e ainda vou ficar devendo Carlos Alberto Leréia, deputado federal pelo PSDB-GO

O número 15.272 Número de candidatos a deputado estadual/distrital, segundo o TSE