Título: Turista gera custo de R$ 30, mas dá retorno de R$ 1,3 mil
Autor: Giffoni,Carlos
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2012, Brasil, p. A4

O turismo no Brasil é uma atividade rentável com grande potencial de crescimento, quando comparado ao que é praticado em países europeus e nos Brics, o grupo de países emergentes que inclui, além do Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul. O gasto público por turista, estrangeiro ou doméstico, somou R$ 29,36 em 2010 (dado mais atualizado), enquanto o retorno médio desses turistas no ano foi de R$ 1.282,94. Ainda assim, é o turismo interno que segura a atividade.

O país ocupa a 39ª posição em um ranking de destino para turistas internacionais, com 5,1 milhões de visitantes em 2010, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT). À frente do Brasil estão China (81 milhões), Rússia (23,7 milhões) e Índia (5,3 milhões), sem enumerar França, EUA, Itália e outras nações europeias, que são destinos tradicionais.

Para empresários do setor, o investimento público em turismo no Brasil é pulverizado, o que atrapalha a consolidação dos principais destinos. Sergipe, por exemplo, recebeu R$ 80 milhões de verba pública para o turismo em 2010 - atrás apenas de Ceará, Pernambuco, Bahia e São Paulo -, mas o Estado não corresponde em atração de turistas.

Municípios, Estados e União investiram R$ 1,62 bilhão para atender melhor cerca de 55,1 milhões de turistas em 2010. Desses, apenas 5,1 milhões eram estrangeiros. A receita média deixada por cada turista internacional chegou a R$ 2.043,91. Já o brasileiro gastou cerca de R$ 1.202,52.

Nos dois casos, a rentabilidade do turismo é alta, já que os cofres públicos não investiram mais de R$ 30 por turista em infraestrutura, transporte e mão de obra, mas a receita bruta ainda está bem aquém daquela gerada em outros países. Considerando o turismo internacional, os estrangeiros gastam na África do Sul o dobro que no Brasil, o triplo na Rússia e 13 vezes mais na China.

Estudo da Confederação Nacional de Serviços (CNS) mostra como a margem de crescimento do turismo no Brasil é grande. O aumento da renda do brasileiro teve influência no avanço do déficit do setor, já que o número de viagens para fora do país cresceu muito. Falta a contrapartida. Enquanto que as despesas de estrangeiros no Brasil cresceram 84% entre 2004 e 2010, a despesa de brasileiros no exterior subiu 471% no mesmo intervalo. O déficit em 2010 foi de US$ 10,5 bilhões. Nesse ano, a receita do país com o turismo estrangeiro ficou em torno de US$ 5,8 bilhões, 41ª posição em um ranking mundial.

Líderes, os EUA registraram US$ 166 bilhões de receita, seguidos de China (US$ 81 bilhões), Espanha (US$ 70 bilhões) e França (US$ 68 bilhões). Também aparecem à frente do Brasil, entre outros, a Tailândia (US$ 22 bilhões), México (US$ 15 bilhões) e Portugal (US$ 14 bilhões), países cujo potencial turístico está bem abaixo do brasileiro, mas onde os turistas estrangeiros gastaram mais.

O brasileiro que viaja para fora gasta, em média, R$ 4.370 por ano. Cerca de 6,6 milhões saíram do país e deixaram mais de US$ 16,3 bilhões lá fora.

Luigi Nese, presidente da CNS, acredita que uma boa estratégia para o país atrair mais o turismo estrangeiro, que é mais rentável, seria concentrar os investimentos em polos de grande atração. "O dinheiro não é, necessariamente, mal gerido, mas temos pulverizado os poucos recursos que temos para o país inteiro, em vez de concentrar em 15 cidades com grande potencial turístico e boas condições de infraestrutura."

O Ministério do Turismo está de acordo com esse discurso. Segundo o secretário-executivo, Valdir Simão, o governo prepara um plano para projetos alinhados com o Plano Nacional de Turismo. "Organizamos um banco de projetos que sejam estratégicos para o turismo no Brasil e que privilegiem 65 destinos-chave, incluindo todas as capitais estaduais."

Dois terços da verba pública federal destinada ao turismo são alocados por meio de emendas parlamentares. A intenção do governo é acompanhar os projetos que recebam dinheiro público e coordená-los com iniciativas feitas no exterior. "Estamos buscando conhecer as expectativas dos países emissores de turistas para tentar customizar os nossos atrativos e serviços para esse público", afirma Simão. Segundo Márcio França, secretário de Turismo no Estado de São Paulo, o brasileiro ainda não domina o inglês, o que atrapalha o serviço prestado no Brasil.

Para Enrico Torquato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), diversos fatores contribuem para que a tarifa do setor seja cara e pouco competitiva com outros destinos internacionais. "A carga tributária massacra a nossa rede hoteleira. Além de estarmos longe dos principais polos emissores de turistas estrangeiros, o nosso custo é alto", diz. O executivo lembra que, para os europeus, é mais fácil - e mais barato - fazer turismo de fronteira.

Os ministérios da Fazenda, Turismo e empresários do setor estão se reunindo em Brasília para negociar incentivos. Neste ano, já houve dois encontros. De um lado, a Abih, que representa 92% dos hotéis do país, pede incentivos tributários. Do outro, o governo exige garantias de retorno.

"Estamos conversando para ver o que é possível fazer também em relação a investimentos e linhas de crédito. Em contrapartida, o governo espera que, com isso, haja geração de empregos, redução de preços e, principalmente, que tenhamos a oferta necessária para a Copa", diz Simão.

Torquato afirma que não faltarão leitos para os eventos esportivos com sede no país, mas que a prioridade do setor é outra. "O desafio é atender ao mercado interno, porque na Copa teremos 600 mil turistas internacionais, mas o grande atrativo são os 30 milhões de brasileiros que passaram a consumir turismo na última década."

A segunda maior deficiência apontada pelo estudo da CNS na promoção do turismo internacional no Brasil é o preço das passagens aéreas. O setor, no entanto, diz que tem reduzido a margem, mas que precisa repassar o aumento no preço do combustível. Nos últimos dois anos, o preço do querosene cresceu 51,64%.

"O combustível de aviação tem reajuste todo mês. As tarifas aeroportuárias são muito caras. Os funcionários, que representam 30% da folha de pagamento do setor, tiveram aumento real anual de 1%, em média, desde 2007, sem falar nos impostos", afirma Jorge Onório, do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea).

"A infraestrutura aeroportuária também não absorve a demanda", diz Onório. "O tempo gasto consumindo combustível com o motor ligado, esperando espaço na rampa de desembarque por falta de pátio, é muito grande. Esse é mais um motivo para o custo subir."