Título: Ataques do PCC acirram campanha em SP
Autor: Agostine, Cristiane e Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2006, Política, p. A11

A terceira onda de ataques do crime organizado em São Paulo, voltou a acirrar os ânimos entre os governos federal e estadual, além de contaminar a campanha eleitoral. Panfletos apreendidos com um sub-tenente da reserva na Assembléia Legislativa de São Paulo, ontem vincularam os ataques da facção criminosa com o Partido dos Trabalhadores e os candidatos petistas Lula e Aloizio Mercadante. Em nota, o diretório estadual do PT repudiou o panfleto.

Tanto o governador do Estado, Cláudio Lembo (PFL), quanto, principalmente, o secretário estadual da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, voltaram a acusar o governo federal como responsável pela crise na Segurança paulista.

Na madrugada de ontem, uma série de prédios públicos - entre eles, os do Ministério Público Estadual, da Secretaria de Estado da Fazenda e do Poupatempo Sé -, agências bancárias, postos de gasolina e supermercados, além de ônibus foram atacados pelo PCC.

Bastos afirmou que "também está amedrontado". Ao lembrar que a decisão é exclusivamente do Estado, disse que a presença das Forças Armadas já poderia ter resolvido o problema com o PCC. "Eu acredito que se a gente colocasse operações do Exército aqui, elas teriam um efeito dissuasório muito grande, como teriam tido em maio, como teriam tido em junho, como teriam tido agora."

E reiterou sua oferta ao governador de São Paulo: "Continuam à disposição as Forças Armadas. Se se precisar que elas façam uma presença não só com homens, mas também com equipamentos, com viaturas, também com aeronaves, elas estão à disposição, nós temos um plano de contingência preparado", afirmou o ministro.

O ministro citou mais duas medidas que iria propor ao governador ainda ontem. Transferir presos para o presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR). "São Paulo querendo, São Paulo julgando oportuno, mande para lá quantos detentos, quantos sentenciados seja conveniente fazer ? ? , afirmou.

A outra medida mencionada por Bastos seria a implantação de um gerenciador federal de crises no Estado, o Gabinete de Gestão Integrada de Segurança Pública. "Eu vou propor de novo ao governador que se acelere a instalação disso, que é um gabinete de gerenciamento de crise reunido permanentemente até que a situação em São Paulo tenha uma clareira e uma luz no fim do túnel."

Sobre os R$ 100 milhões liberados do Fundo Nacional Penitenciário para Secretaria Estadual da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, e ainda não utilizados, o ministro culpou a secretaria estadual por não haver apresentado projeto algum para o emprego da verba. Bastos, Lembo e o procurador geral Rodrigo Pinho reuniram-se por menos de uma hora no Ministério Público Estadual, mas não falaram com a imprensa.

Mais cedo, durante uma cerimônia de entrega de carros à Polícia Civil, Lembo afirmou que a ajuda do governo federal "são só palavras". O secretário da Segurança, fez críticas mais duras e disse que as propostas da União são "óbvias". "Por lei, o governo já tem que visitar os presídios e ver a execução da pena de cada réu. E já faz isso ao lado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Defensoria Pública."

Saulo desafiou o governo federal, disse que o ministro da Justiça mentiu, afirmou duvidar do dinheiro prometido e colocou seu cargo à disposição caso a União encaminhe os R$ 100 milhões prometidos: "O ministro faltou com a verdade quando disse que os R$ 100 milhões e os R$ 50 milhões para reformar os presídios viriam já. Não vieram e não virão. Se o que ele disse acontecer, eu me calo e entrego o cargo. Agora se não acontecer então ele entrega o cargo antes do dia 31 porque depois que acabar o governo não vale". Saulo ironizou o oferecimento do Exército e disse querer 4,5 mil soldados ou 1,5 mil por turno para fazer a guarda dos presídios.

O candidato do PSDB, que lidera as pesquisas de intenção de voto ao governo de São Paulo, José Serra, fez eco ao secretário ao afirmar que o exército poderia guardar as muralhas das prisões. "Com isso liberaria muito PM para o trabalho de rua".

Já o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que é uma "coincidência" os ataques supostamente feitos pelo PCC, em São Paulo, estarem ocorrendo na época da campanha eleitoral. "É uma coincidência a motivação desses ataques. Não tem a menor lógica. Ladrão quer dinheiro e com o menor risco possível. O que o ladrão ganha dando tiro no posto de gasolina? O que ele ganha dando tiro na polícia? O que ele ganha jogando bomba numa vidraça. O que ganha queimando o ônibus? Nada. Que é estranho, é estranho", disse Alckmin ao chegar no Rio.

À noite, em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o candidato tentou minimizar a responsabilidade de sua gestão no controle do problema e disse que essa é uma "questão nacional". "Essa é questão de caráter nacional. Tem demonstração localizada, mas todas as grandes cidades têm problema de segurança", disse. Alckmin prometeu que "assumirá responsabilidade", fiscalizará as fronteiras brasileiras e tornará as punições ao crime mais severas. (Com agências noticiosas)