Título: Atuação influirá na sucessão no Senado
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2012, Política, p. A9

O desempenho do senador Eduardo Braga (PMDB-AP) na liderança do governo no Senado terá forte influência na sucessão do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), em fevereiro de 2013. Apontado como um dos possíveis candidatos do grupo dos "independentes" do PMDB, Braga sofreu o primeiro revés, ontem, com a ida do PR do Senado para a oposição. Mas, se der a volta por cima e mostrar habilidade política na função, pode se cacifar na disputa com o líder, Renan Calheiros (AL), até agora considerado o nome mais forte para suceder Sarney.

Observadores petistas da transição da liderança fazem a seguinte avaliação: se o PMDB ficar dividido, isso vai favorecer uma eventual candidatura de Braga ou de outro senador do grupo dos "independentes", mas, se conseguir uma composição com essa ala, mantendo uma certa unidade da bancada, Renan pode ficar ainda mais forte como candidato a presidente do Senado.

Mesmo que não seja Braga, o grupo dos senadores que contesta o comando de Renan, espera, a partir de agora, ganhar mais força para influenciar nesse processo sucessório, já que - acredita - terá interlocução própria com o Planalto. Como Jucá integra o grupo de Renan, a interlocução do partido com o Planalto era exclusividade de uma ala.

O primeiro sinal dessa ala pemedebista menos afinada com Renan e Sarney já foi dado. Vital do Rêgo (PMDB-PB), avisou que lança seu nome se o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) reassumir sua cadeira no Senado - pelo PMDB do Maranhão - para ser candidato a presidente da Casa, no caso de Renan não viabilizar sua candidatura. Na conversa com os colegas, Vital diz que não se pode aceitar que alguém de fora seja lançado, como se nenhum dos atuais senadores tivesse competência. Lobão é ligado a Renan, Sarney e Jucá. Seu retorno ao Senado poderia ser uma manobra para manter o comando, se o líder da bancada ficar enfraquecido.

Braga era um dos "independentes" do PMDB, antes oito dos 18 senadores. Por isso, era chamado de G-8 (Grupo dos Oito). Essa ala conseguiu a adesão de Vital e Eunício Oliveira (CE), que tiveram papel importante na votação que rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo à direção-geral da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) - fato apontado como gota d"água para a troca da liderança do governo pela presidente Dilma Rousseff.

A partir de segunda-feira, o grupo de Renan ganha mais um, com a filiação de Clésio Andrade, que deixou o PR. Jucá e Renan já trabalham pela composição da bancada, praticamente dividida em dois grupos. O vice-presidente da República, Michel Temer, reuniu no mesmo dia, para um jantar, Braga, Jucá, Renan e outros pemedebistas e pregou a necessidade de unidade. Essa é, desde então, a palavra mais falada por eles.

Por ora, os "independentes" foram acalmados com a nomeação de Braga. A expectativa é que ele atue como interlocutor dessa ala, levando as demandas ao Planalto. O grupo tem pouca coisa em comum, além das queixas da falta de interlocução. "Há muito mais reclamações em comum do que uma agenda comum", diz um deles.