Título: Operários pressionam Gerdau com ameaça de greve em usinas nos EUA
Autor: Nakamura, Patrícia; Ribeiro, Ivo e Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Empresas, p. B1

A expansão da Gerdau nos Estados Unidos, levando o grupo à posição de segunda maior fabricante de aços longos da América do Norte, também fez crescer seus problemas na região. A companhia brasileira, 14ª no ranking mundial do aço, enfrenta intensas e prolongadas negociações com a United Steelworkers (USW), central sindical que representa os trabalhadores em sete das 19 usinas operadas pela subsidiária Gerdau Ameristeel.

O confronto ficou maior com a compra da Sheffield, em abril deste ano. O número de usinas com acordos trabalhistas vencidos passou de quatro (as unidades que pertencia à Cargill) para sete. "A empresa quer suprimir direitos conquistados há 50 anos pelos trabalhadores", afirmou ao Valor Jonathan Vandenburg, gerente de estratégia da USW, na Filadélfia.

A USW divulgou ontem material, em português, no qual informa que caso haja uma decisão de greve em quatro unidades da companhia nos EUA, a Ameristeel terá perdas trimestrais (de vendas e custos fixos) superiores a US$ 50 milhões por trimestre. Segundo Carolyn Kazdin, representante para a América Latina, o documento foi entregue a Jorge Gerdau, presidente do grupo e membro do conselho da Ameristeel, em maio deste ano, durante uma reunião com acionistas em Toronto (Canadá).

O documento, divulgado por Vandenburg e que relata o papel do USW no processo de consolidação da siderurgia americana, mais se parece a um detalhado relatório de analistas de bancos. Traz inúmeras informações das usinas e projeta até a perda por ação da Ameristeel no caso de deflagração de uma greve em quatro unidades industriais. Os dados são atribuídos a uma consultoria, cujo nome não foi revelado.

A central sindical, segundo Vandenburg, está disposta a estender as negociações com os representantes da Gerdau para fechar os acordos trabalhistas - os acordos são discutidos com cada uma das usina. Mas ele não descarta a realização de greve (em uma ou em todas as unidade) ainda este ano, caso as conversas não vinguem. A direção da USW não marcou prazo para o fim das negociações. "A greve será nosso último recurso, mas não hesitaremos em parar caso seja necessário", afirmou. As sete usinas empregam cerca de 3 mil pessoas.

Ontem, no início da noite, a Gerdau afirmou, por meio de comunicado, que considera o relatório divulgado pela USW "especulativo e inconsistente" e que o sindicato está adotando medidas para "pressionar" a Ameristeel durante o processo de negociações dos contratos trabalhistas. A direção do grupo disse que "deposita total confiança na gestão local, que está empenhada em obter acordos salariais justos e assegurar os direitos dos seus colaboradores".

Para a Gerdau, "os números apresentados pelo sindicato pertencem a fontes desconhecidas e, por isso, não tem condições de avaliá-los". Segundo a empresa, as negociações com os funcionários da Ameristeel continuam e "tanto o ambiente de trabalho como a operação das unidades encontram-se em absoluta normalidade".

Em março (antes de adquirir a Sheffield), a direção da USW encomendou esse estudo, focando perdas da Ameristeel nas usinas Beaumont (Texas), Perth Amboy (Nova Jersey), St. Paul (Minnessota) e Wilton (Iowa). Aponta perdas com vendas de US$ 2,5 milhões a US$ 3 milhões por dia. Haveria também um prejuízo diário de US$ 270 mil com a paralisação das usinas.

Ainda segundo o estudo, essas quatro unidades são responsáveis por 33% da capacidade de produção da Gerdau Ameristeel.

Vandenburgh enumerou os pontos em discussão com Gerdau. Segundo o USW, a siderúrgica gaúcha quer reduzir o valor pago pelas horas extras, o cancelamento da licença prêmio (dada a cada cinco anos de trabalho) e a diminuição "significativa" de benefícios como planos de saúde, aposentadoria e previdência privada, além de participação sobre os lucros. "Queremos negociar diretamente com o presidente da empresa (Jorge Gerdau), porque as discussões com os representantes (escritórios de advocacia) não avançam".

Segundo Carolyn, os trabalhadores da Cavert City já obtiveram uma vitória, com o reconhecimento de seu direito de US$ 2 milhões por conta de participação de resultados. "Vamos lutar para ter o mesmo nas outras três usinas".

O grupo Gerdau informou ainda que vem "trabalhando intensamente" nas negociações para "preservar a continuidade dos negócios, manutenção dos empregos e as condições justas de compensação e benefícios".