Título: Telecom Italia busca mais rentabilidade no Brasil
Autor: Bitencourt, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2012, Empresas, p. B3

A crise europeia e o dinamismo dos mercados emergentes já se refletem nas contas da Telecom Italia. Em três anos, o grupo italiano pretende equiparar o faturamento da América Latina - essencialmente no Brasil e na Argentina - às receitas obtidas em seu país de origem. Nos últimos cinco anos de operação, a TIM Brasil viu sua participação nas receitas globais do grupo quase dobrar: saltou de 12,6% para 24,5%, entre em 2006 e 2011.

Outra operadora do grupo, a Telecom Argentina, respondeu por 10% da receita bruta da Telecom Italia em 2011. Enquanto isso, as receitas das operações domésticas do grupo italiano caíram 4,6%, com redução tanto da telefonia fixa quanto da móvel.

O faturamento global da Telecom Italia alcançou € 29,9 bilhões no ano passado. O comando da companhia tem observado com atenção o desempenho das empresas controladas. "Prevemos que, em três anos, a receita na América Latina terá o mesmo peso que na Itália", afirmou ao Valor o presidente do grupo, Franco Bernabè. "Há uma tendência de isso se equilibrar, porque, na América Latina, a receita é crescente, enquanto na Itália temos uma contração."

Bernabè ressaltou, porém, que a rentabilidade da operação de serviços na Itália permanecerá maior. "A Itália continuará sendo o mercado onde será gerado o caixa para o grupo. Enquanto a América Latina absorve esse caixa, absorve o seu potencial de investimento", disse Bernabè, que participou ontem de evento na Embaixada da Itália, em Brasília.

O executivo responsabiliza a cobrança de impostos cobrados sobre os serviços de telecomunicações como o principal entrave ao setor. "O custo elevado de operação no país, causado basicamente pela carga tributária, faz com que a rentabilidade do grupo no Brasil despenque", disse.

Embora já tenha a perspectiva de representar metade do faturamento global, a América Latina ainda não se compara à Europa em termos de rentabilidade do investimento. O presidente da TIM Brasil, Luca Luciani, informou que a geração líquida de caixa, em toda a operação global, será de € 22 bilhões no acumulado dos próximos três anos. "A participação da América Latina será de 20%. Ou seja, apesar de ser um motor de crescimento, a operação regional não se sustenta como caixa. O Brasil só vai produzir € 4 bilhões em três anos, de 2012 a 2014".

Bernabè elogiou o desempenho da economia brasileira e afirmou que a estabilidade política do país o coloca em um nível de atratividade superior ao de outros emergentes. Ele atribuiu a apreciação do real à alta liquidez e aos juros excessivamente baixos dos Estados Unidos e da Europa, além do trauma latino-americano com a hiperinflação, o que leva seus bancos centrais a uma postura mais cautelosa.

O executivo minimizou comentários sobre a desindustrialização do Brasil, lembrando que "o desenvolvimentismo estatal não foi benéfico à América Latina", e sugeriu evitar o protecionismo comercial. "A última coisa a fazer é invocar medidas protecionistas", comentou.

Bernabè disse ainda que o Brasil precisa "renovar" suas infraestruturas de telecomunicações. "Faltaram investimentos ao longo do tempo. As infraestruturas não se renovaram da forma necessária para alcançar maior conectividade e atender a exigências de utilização mais avançada da internet", afirmou o presidente do grupo que controla a TIM no Brasil.

Segundo Bernabè, a TIM Brasil está inserida no conjunto de empresas estrangeiras que somam esforços ao realizar investimentos elevados no país. "Se eu fizer as contas de tudo que já foi investido no Brasil e do que será investido até 2014, atingiremos aproximadamente R$ 30 bilhões", destacou o executivo durante a conferência "Brasil e Itália no contexto global", realizada na embaixada da Itália no Brasil.

Na Argentina, o grupo italiano está representado pela Telecom Argentina, que detém praticamente metade do mercado de telefonia fixa e 30% do mercado de telefonia celular. A Telecom Italia acumulou brigas com seus sócios locais, a família Werthein, e com o governo argentino. A Casa Rosada chegou a cogitar a reestatização da empresa, após a entrada da Telco no bloco de controle da Telecom Italia, já que a espanhola Telefônica detém a outra metade da telefonia fixa no país. Após meses de brigas, o governo da presidente Cristina Kirchner decretou trégua na relação com os italianos, que também se acertaram com a família Werthein e elevaram a sua participação acionária na Telecom Argentina.

Bernabè garante que ficou para trás a hipótese de venda das ações do grupo italiano na operadora argentina. Em 2010, pelo menos cinco grandes empresas locais demonstraram interesse no negócio, mas não fizeram nenhuma proposta financeira que atingisse os valores desejados pela Telecom Italia. O executivo descartou a possibilidade de negociar novamente a saída da Argentina. "Não há intenção de venda de participação nem na América Latina, nem na Argentina e muito menos no Brasil", afirmou Bernabè.