Título: Canon busca os 'amadores' das câmeras digitais
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Empresas, p. B7

Nós não fabricamos brinquedos". Essa é a frase que Christopher Ryan, responsável pela gerência de produtos da Canon na América Latina, diz que é obrigado a ouvir toda a vez que viaja até o Japão. Não porque Ryan esteja convencido de que a Canon, uma das maiores fabricantes de câmeras fotográficas do mundo, tenha que entrar em um mercado dominado por "barbies" e "playmobils", mas sim porque sua estratégia para ampliar a participação da empresa no mercado latino-americano passa, necessariamente, pela oferta de produtos mais baratos. "Não tem muito jeito, estamos numa região muito sensível a preço, não só à qualidade. Por isso também temos buscado formas de reduzir o valor de alguns produtos", diz.

Ao participar de uma feira de fotografia nesta semana no Brasil, Ryan trouxe ao país cinco novos modelos de câmeras digitais, todas voltadas especificamente para uso amador. Atualmente, o modelo mais barato de uma câmera Canon no Brasil, com resolução de quatro megapixels, tem preço sugerido de R$ 799,00. "Já é um valor bastante razoável, mas estou negociando com a matriz uma máquina de R$ 699,00 para o ano que vem", afirma.

Com a promessa de uma redução de preço em torno de 15%, a Canon trabalha para crescer no mercado de produtos amadores. De todas as câmeras que vende atualmente, pelo menos 60% são equipamentos com configurações profissionais.

A tarefa de posicionar a marca entre os equipamentos mais simples inclui investimentos de US$ 1 milhão neste ano, cifra que está sendo aplicada em ações de marketing, promoção e treinamento de assistências técnicas. A distribuição da companhia no Brasil, que até então era restrita a Elgin, recentemente também passou a contar com o apoio da Opeco, companhia nacional que coordena uma rede com mais de 320 postos de assistência técnica autorizados. Em sua carteira de clientes, a importadora também coleciona clientes como Sharp, Palm e Coby.

Questionado sobre a possibilidade de uma eventual produção local reduzir os custos dos produtos (hoje tudo é fabricado no Japão, China e Malásia), Ryan refuta a hipótese. "Já fizemos simulações. Por enquanto, é algo que não está nos planos da companhia", diz. Suas principais concorrentes, Sony e Kodak, porém, já têm produção nacional.

Mas a batalha de Ryan não se limita ao mundo dos flashes. Em paralelo, o executivo carrega a meta de fazer da Canon uma marca reconhecida também na arena das filmadoras, divisão que hoje representa menos de 1% dos negócios da companhia no mercado latino-americano. "Queremos que essa participação passe a ser de 5% nos próximos dois anos, chegando a 10% em 2010", projeta.

Além da dificuldade de enfrentar concorrentes já consolidados no mercado doméstico local, como Panasonic e Sony, a Canon tem que lidar com os rombos causados pelo mercado informal, que abocanha cerca de 50% do setor, segundo Ryan. Ao lado de preços mais competitivos, a companhia aposta na inovação. Para o próximo mês, a Canon promete o anúncio de uma nova família de produtos, possivelmente até a custos mais reduzidos. "Mas nada de brinquedos", promete.