Título: Estudo mostra que ferrovia enfrenta limitações para atender a demanda
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Empresas, p. B10

As maiores empresas industriais do Brasil têm planos de usar mais as ferrovias no transporte de carga geral nos próximos anos, mas a nova demanda por frete ferroviário pode não ser plenamente atendida. Pesquisa com 111 empresas de 14 setores, feita pelo Centro de Estudos em Logística (CEL) do Coppead/UFRJ, indica que os entrevistados pretendem ampliar a participação do modal ferroviário no seu mix de transporte dos atuais 5,4% para 9,2%, em média, em três anos. Seria um crescimento de 70%.

Paulo Fernando Fleury, diretor do CEL, diz que é difícil imaginar que as ferrovias consigam atender tamanho crescimento de demanda em tão curto espaço de tempo. Ele justifica o argumento dizendo que, em dez anos, o crescimento da carga geral nas ferrovias foi de cerca de 50%. Fleury diz que já há casos de empresas que não conseguem ter as suas necessidades atendidas pelas concessionárias. "Muita gente que quer ir para o ferroviário continuará no rodoviário", diz Fleury.

Na pesquisa, o CEL fez duas perguntas às empresas: como elas transportam hoje a sua carga e qual a previsão para os próximos três anos. Atualmente as 111 entrevistadas transportam, em média, 88,3% de suas cargas via rodovia e 5,4% por ferrovia. O modal aquaviário representa 1,6% do universo da amostra; o aéreo, 2,6%; e os dutos, 2,2%. Em três anos, o rodoviário poderia cair para 82,5% e o ferroviário e o aquaviário subir para 9,2% e 4%, respectivamente. O aéreo e os dutos ficariam estáveis.

Os resultados da pesquisa serão divulgados no 12º Fórum Internacional de Logística, que começa segunda-feira, no Rio. O trabalho incluiu carga geral e commodities agrícolas e excluiu minério.

Fleury argumenta que a falta de investimentos nas linhas (malhas) já leva a uma queda de produtividade nas ferrovias, apesar dos investimentos em material rodante (vagões e locomotivas). A saída, frente à eventual impossibilidade de atender o crescimento de toda a demanda no ferroviário, será reforçar a produtividade do modal rodoviário.

A busca por preços bons e qualidade de serviço no rodoviário depende de ações como o aumento do transporte colaborativo, que consiste no uso de um mesmo caminhão por mais de uma empresa ao longo do percurso do veículo, e da sinergia entre suprimento e saída de uma empresa, diz Fleury. Neste caso a fábrica pode utilizar um mesmo veículo para fazer a entrega de insumos, em uma ponta, e escoar a produção, na outra.

Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), discorda de Fleury. "Fico feliz que as empresas vejam as ferrovias como uma alternativa de transporte, mas o crescimento previsto pela pesquisa do CEL não assusta as concessionárias que operam com contêineres (MRS, ALL e FCA)", diz Vilaça. Ele também refuta a análise de Fleury sobre a queda de produtividade nas ferrovias, mas reconhece que há gargalos na malha cuja solução depende do governo.

Vilaça disse ainda que houve recuperação de ramais ferroviários para atendimento de clientes como Klabin, Votorantim e Gerdau. E foram construídos 32 novos terminais intermodais que contemplam ramais ferroviários.

Júlio Fontana Neto, diretor-presidente da MRS Logística, disse que os números da empresa falam por si: "Em 1996, a MRS transportava 42 milhões de toneladas/ano. Em 2006, serão 114 milhões de toneladas, volume que, em 2010, deve chegar a 200 milhões de toneladas, a partir de investimentos de US$ 1 bilhão." Fontana avalia, porém, que é importante ter planejamento de longo prazo e que os clientes das ferrovias não estão acostumados a assinar compromissos de longo prazo com as concessionárias.