Título: Petistas e tucanos planejam ataques mútuos durante CPI mista
Autor: Exman ,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2012, Política, p. A6

Ignorando o desconforto de autoridades do Palácio do Planalto com a iniciativa, a Câmara e o Senado avançaram ontem na criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar o escândalo protagonizado pelo empresário Carlos Augusto Ramos. A presidente Dilma Rousseff enviou recados aos parlamentares de que não interferirá numa questão do Congresso. No entanto, ao negociar a inclusão das conexões do suposto esquema ilegal no setor privado, a oposição já se organiza para tentar levar a crise para o centro do Executivo. Parlamentares do PSDB e do DEM acreditam que construtoras contratadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) poderão ser atingidas pelas apurações.

O PMDB do Senado deve indicar o presidente da comissão. Estão cotados para o posto os senadores Vital do Rêgo (PB) e Casildo Maldaner (SC). O favorito é o paraibano, apesar de sua recente recusa a assumir a presidência do Conselho de Ética e comandar o julgamento político do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), citado no escândalo como um dos integrantes do suposto esquema. Já a bancada do PT da Câmara, apesar de alguns de seus integrantes criticarem a criação da CPMI, discute quem indicará para relatar os trabalhos da comissão.

Conhecido como Carlinhos Cachoeira, Carlos Augusto Ramos foi preso pela Polícia Federal sob a acusação de comandar uma rede ilegal de jogos de azar. Articuladores políticos do Palácio do Planalto estão cientes de que as investigações da CPMI poderão provocar efeitos colaterais. Por isso, querem que os petistas não abram mão da relatoria. No entanto, PSDB e DEM tentam negociar a vaga. "Esperamos que haja um compartilhamento entre o governo e a oposição para que não seja uma CPMI chapa branca", justificou o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE).

O objetivo de petistas é usar a CPMI para dividir as atenções durante o julgamento do escândalo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e atacar o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Já a oposição acredita que também conseguirá atingir o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Mesmo assim, os dois governadores negam o envolvimento com irregularidades.

Líderes dos partidos da base aliada e da oposição negociavam ontem o texto do requerimento de criação da CPMI. Numa primeira versão, os petistas tentaram limitar as investigações "às práticas criminosas desvendadas pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal". Mas até o fechamento desta edição ainda não havia acordo sobre o texto do requerimento com a oposição. Tão logo cheguem a um consenso, os partidos coletarão as assinaturas para apresentar o requerimento de criação da CPMI ao presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP). "Se a instalação passar de terça-feira, há uma clara manobra de desinteresse", alertou Araújo.

Ontem, o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) negou denúncias publicadas pelo jornal "O Estado de S. Paulo" segundo as quais ele teria ligações com Idalberto Matias Araújo, um dos integrantes do grupo de Cachoeira. O parlamentar, que soma o PCdoB à relação de partidos envolvidos no caso, ressaltou que Araújo, conhecido como Dadá, era o sargento do Serviço de Inteligência da Aeronáutica responsável pela ligação deste orgão com o a Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, onde o deputado era lotado. Protógenes também pediu à Procuradoria-Geral da República informações da investigação sobre o caso que possa incriminar sua atuação parlamentar, e questionou por meio desse mesmo ofício se tais dados evidenciam "conduta criminosa" relacionada ao esquema.

"Aqueles que tiveram um apetite repentino por CPI perderam a fome, perderam a pressa, porque até agora não há requerimento para coleta de assinaturas. Nós da oposição estamos prontos para assinar o requerimento. Achamos importante a instalação da CPI para uma investigação completa", disse o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).