Título: Após oferta hostil, Perdigão busca ganhar musculatura
Autor: Rocha, Alda do Amaral e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Agronegócios, p. B13

A tentativa de aquisição hostil feita pela Sadia, no mês passado, acelerou os planos da Perdigão de ganhar musculatura, avaliam analistas. O plano de captar cerca de R$ 500 milhões com uma oferta pública de novas ações visa encher o caixa da empresa para sustentar o seu crescimento, orgânico e também via aquisições.

Segundo o Valor apurou, uma assessoria financeira foi contratada para buscar alternativas de ativos que possam interessar à Perdigão. Como a própria companhia já manifestou anteriormente, seu foco está em produtos refrigerados e alimentos processados. Mas, para alguns analistas, a estratégia também pode ser uma forma de elevar valor de mercado para eventuais novos interessados em sua aquisição.

A empresa emitirá ações ordinárias no Brasil e de ADRs nos Estados Unidos. Pessoas próximas à Perdigão dizem que a oferta já estava programada e só aguardava que o mercado de ações melhorasse, o que ocorreu nas última semanas.

Mas analistas crêem que os planos tenham sido antecipados como uma defesa, já que a empresa eleva o seu valor de mercado com a oferta. Essa é a avaliação de Andrés Kikuchi, da Link Corretora. Ele comparou o movimento da Perdigão ao da siderúrgica Arcelor após oferta hostil da Mittal. "A Arcelor passou a procurar parceiros. Como não tem com quem se associar imediatamente, a Perdigão vai captar recursos".

A Link diz que o caixa da Perdigão alcançaria R$ 1 bilhão com as novas ações. Rafael Weber, da Geração Futuro, acredita que a oferta pública já estava prevista porque o cenário difícil para 2006 - com queda das exportações em função da gripe aviária e da aftosa - já se desenhava no início do ano. Assim, avalia, a empresa já trabalhava com a perspectiva de menor geração de caixa e necessidade de obter capital para efetivar o plano de expansão de 9% ao ano.

A empresa espera emitir 20 milhões de novas ações ordinárias. Caso a demanda pelas ações seja forte, há a possibilidade de emissão de um lote suplementar equivalente a 15% da oferta inicial. Considerando o fechamento na Bovespa, ontem, a Perdigão poderia obter R$ 482,6 milhões com a oferta (sem os 15% adicionais). Quando uma companhia já tem papéis em bolsa, as novas ações são vendidas com um pequeno desconto sobre o preço de mercado.

Em sua justificativa para a operação, a Perdigão informa que os recursos obtidos visam "dar suporte ao plano de investimento de aproximadamente R$ 350 milhões por ano em média, de 2005 a 2009", capital de giro e "possíveis aquisições", com foco na diversificação.

Com a notícia da oferta, surgiu a dúvida sobre a intenção ou não dos fundos de pensão de acompanhar o aumento de capital. Os atuais acionistas têm direito de preferência na subscrição das novas ações. Se não o fizerem, serão diluídos em suas participações. Hoje, os nove fundos que antes compunham o bloco de controle da empresa (entre eles Previ e Petros) detêm pouco menos de 50% do capital total. Com o apoio da Weg Participações, os fundos rapidamente rejeitaram a oferta da Sadia

Se nenhum desses acionistas subscrever ações, a participação somada deles (incluindo Weg) cairá de cerca de 55% para menos de 50%. Não teriam tanta facilidade para barrar uma nova oferta. O Valor apurou que essa ainda não é uma questão fechada, mas que nem todos os fundos devem comprar ações na oferta e que alguns deles serão diluídos. Uma fonte ligada à empresa diz que desde que revogaram o antigo acordo de acionistas e assinaram um novo os fundos deixaram claro que não têm mais a preocupação de manter em suas mãos mais de 50% do capital. "Prova disso é que o novo acordo não dá direito de preferência aos demais fundos caso algum deles resolva vender suas ações".