Título: Fed mantém os juros em 5,25%
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Finanças, p. C1

A decisão do Fed, banco central americano, de deixar as taxas de juros básicas dos Estados Unidos inalteradas em 5,25% ao ano, favorece no curto prazo o fluxo de recursos para títulos, ações e moedas dos países emergentes. O Banco Central brasileiro vai ter de comprar mais dólares e acumular mais reservas para evitar valorização forte no real.

A decisão do Fed, apesar de ser "um alívio", embute no entanto uma mensagem de cautela em relação ao crescimento econômico americano, alerta Drausio Giacomelli, estrategista do JP Morgan. "Parar de subir juros mesmo com a inflação acima do intervalo de conforto indica que o aperto monetário pode já ter sido demasiadamente forte." Os analistas do Barclays Capital concordam: o comunicado do Fed foi mais "dovish" do que o esperado e indica que nenhum outro aumento nos juros virá na reunião de setembro.

Também no mercado futuro, um número menor de investidores no passou a apostar em novas altas neste ano. Os juros futuros dos contratos de vencimento em dezembro na Chicago Board of Trade tiveram uma queda de 2,5 pontos básicos, para 5,335% ao ano, segundo a "Bloomberg". Ou seja, o mercado projeta chance de 53% de alta nas taxas básicas, em comparação com os 68% de anteontem.

O Fed começou a subir os juros básicos em sua reunião de junho de 2004, do recorde de baixa de 1% ao ano para 1,25% ao ano. Desde então, elevou essas taxas mais 16 vezes sempre no mesmo ritmo, de 0,25 ponto percentual, para 5,25%.

A manutenção dos juros na reunião de ontem era em grande parte esperada pelo mercado, apesar dos números de inflação terem surpreendido negativamente. Os dados sobre o ritmo da economia dos EUA, com destaque para a alta da taxa do desemprego para 4,8%, fizeram crescer as apostas no fim do aperto monetário. Essas apostas começaram quando o presidente do Fed, Ben Bernanke, já no dia 19 de julho disse que o crescimento econômico mais moderado nos EUA deve brecar as pressões inflacionárias.

Mas, o anúncio do núcleo do Índice de Preços ao Consumidor americano, o CPI, que subiu à taxa anualizada de 2,4% em junho, trouxe algumas dúvidas. O intervalo de segurança desejado pelo Fed para a inflação é de 1% a 2% ao ano. "As pressões inflacionárias devem provavelmente ficar mais moderadas com o passar do tempo", disse o comunicado do Fed divulgado ontem. Isso reflete "as contidas expectativas de inflação e os efeitos cumulativos das ações de política monetária e outros fatores contendo a demanda agregada", diz o comunicado.

Giacomelli lembra que o mercado imobiliário americano já mostra importante enfraquecimento e precisa ser observado de perto. "O risco de uma desaceleração maior no crescimento econômico mundial, com queda no preço dos commodities e na demanda por produtos de exportação dos países emergentes não está descartado", lembra Giacomelli. "Alguns riscos de inflação permanecem", continua o comunicado do Fed.

Esses riscos estão colocados, mas não no curto prazo. "O ambiente agora será de baixa volatilidade, com juros básicos estáveis, preços dos commodities ainda forte, China em expansão e crescimento econômico internacional razoável", acredita Giacomelli. Segundo o "Financial Times", as primeiras estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto americano no segundo trimestre são de 2,5% ao ano, uma redução considerável na comparação com os 5,6% do primeiro trimestre, mas ainda um crescimento.

Os analistas do Barclays vêm crescimento forte nos países emergentes impulsionando a demanda global e não acreditam em uma queda muito forte no ritmo de crescimento da economia americana agora. "Se o BC não atuar, a tendência é de apreciação do real", diz Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do ING. O BC poderá ter de comprar neste mês mais do que os US$ 5,1 bilhões estimados pelo Credit Suisse para as compras de julho.