Título: PMDB cura as próprias mágoas
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2010, Política, p. 5

Sigla que compõe a chapa de Dilma busca a união interna em prol da vitória da petista, mas deixa claro que vai lutar por mais espaço

Eu preciso de vocês. Preciso chegar à Vice-Presidência da República não para ter um emprego, mas para representar a maior força político-partidária do nosso país, que é o PMDB. Pela primeira vez, o PMDB vai chegar e governar junto. Levem-me à Vice-Presidência ao lado desta grande brasileira que é a Dilma Rousseff. Com este apelo feito ontem a todos os peemedebistas eleitos, reeleitos e até derrotados, o presidente do partido, deputado federal e candidato a vice-presidente, Michel Temer (SP), deflagrou o trabalho de cura das mágoas deixadas pelo processo eleitoral, de forma a manter a sigla firme na busca por votos para a chapa presidencial.

Dilma não foi ao encontro, realizado ontem à tarde, em Brasília. Preferiu deixar os peemedebistas mais à vontade. E a conclusão geral foi a de que ela e Temer, que já haviam conversado mais cedo, tomaram a decisão acertada. O PMDB, embora comprometido publicamente em trabalhar com afinco pela eleição de Dilma e Temer, saiu do primeiro turno sentindo-se meio escanteado pela aliança petista. À noite, depois do encontro com todos os líderes, Temer iria conversar com André Puccinelli, o governador reeleito de Mato Grosso do Sul, que foi desprezado pelo PT no primeiro turno e apoiou José Serra (PSDB).

Nos bastidores, alguns integrantes da bancada chegaram a falar que, na eleição para deputado federal, houve meio que uma ação organizada por parte dos petistas para tirar do PMDB o posto de maior bancada e, assim, ficar no futuro com a Presidência da Câmara. Os peemedebistas também reclamaram que, no plano nacional, não houve papel ativo do partido na coordenação de campanha, o que agora será cobrado. É chegada a hora da verdade. Houve pouca presença do PMDB no primeiro turno, afirmou o líder da sigla na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), diante de uma plateia que balançava afirmativamente a cabeça.

Não chegamos até aqui com a complacência de ninguém. Quero ver a coragem e a lealdade do PMDB nesta campanha. Não consigo admitir que o PMDB de corpo e alma vai preferir Índio da Costa (deputado do DEM e vice de José Serra) quando o vice pode ser e será o nosso Michel Temer, completou Alves, pré-candidato do partido à Presidência da Câmara, citando ainda os erros e a desunião do PMDB no passado, que, hoje, avalia, estão superados.

Os senadores discursaram no mesmo sentido: Até parece que a Marina Silva (presidenciável do PV) obteve mais votos. Com todo o respeito a ela, quem venceu o primeiro turno fomos nós, disse o senador Valdir Raupp (RO).

Os peemedebistas saíram do encontro mais conformados e certos de que o melhor é seguir com o PT. Vamos eleger Dilma e Temer. Depois a gente vê, disse o senador Hélio Costa, que perdeu a disputa pelo governo de Minas Gerais, resumindo o sentimento que paira entre os correligionários. Embora alguns calculem que o acordo com o PT não tenha sido um bom negócio, a maioria considera tarde para mudar de lado.

"É chegada a hora da verdade. Houve pouca presença do PMDB no primeiro turno

Henrique Eduardo Alves, deputado do PMDB-RN