Título: Cúpula reforça a nova face da Colômbia
Autor: Felício,César
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2012, Internacional, p. A13

O primeiro encontro entre dirigentes empresariais das três Américas deve ser o principal traço distintivo da sexta cúpula das Américas, que começa neste fim de semana em Cartagena, no litoral colombiano. Dos 32 chefes de Estado que passarão pela cidade entre sexta e domingo, 12 irão participar de debates com CEOs de empresas como as americanas Pepsi, Walmart e General Electric, as brasileiras Odebrecht, BRF e BTG Pactual, as argentinas IMPSA e Grobo e a mexicanas Femsa e Televisa.

Os painéis entre empresários serão mediados por órgãos da mídia, como os jornais "Financial Times" e "Miami Herald", a agência Thomson Reuters, a televisão CNN e o Valor. A presidente brasileira, Dilma Rousseff, terá papel protagonista: dividirá o painel da tarde de sábado com o anfitrião, o colombiano Juan Manuel Santos, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O mexicano Felipe Calderón e o canadense Stephen Harper vão fazer apresentações solitárias. A participação da argentina Cristina Kirchner, ainda pendente de confirmação, será discreta: ela deverá dividir as atenções num painel com as chefes de Estado de Jamaica, Trinidad e Tobago e Costa Rica.

Dilma e Obama, que se encontraram no início desta semana, manterão reuniões bilaterais com Santos após a cúpula, na tarde de domingo. Além dos dois, somente o chileno Sebastián Piñera terá uma agenda à parte com o anfitrião, mas antes da cúpula, hoje. Dilma deve chegar à Colômbia amanhã à noite e não deverá participar do jantar oferecido por Santos aos demais presidentes.

A cúpula deverá deixar evidente a guinada que afastou Juan Manuel Santos de seu antecessor, Álvaro Uribe, hoje seu principal opositor. Distante do atrelamento total aos EUA que marcou os dois mandatos de Uribe, de quem foi ministro da Defesa, Santos aposta no multilateralismo.

O presidente colombiano aceitou a exclusão de Cuba do encontro, uma exigência americana que marcou todas as cúpulas anteriores, mas viajou a Havana em março para encontrar-se com o cubano Raúl Castro e o venezuelano Hugo Chávez, desarticulando um possível boicote ao encontro. E deve garantir a discussão na reunião plenária de uma proposta encampada pelo presidente da Guatemala, Otto Pérez, para que o financiamento do combate antidrogas pelos países consumidores tenha metade de seus recursos direcionados para programas de saúde e educação. A proposta deverá ser encampada pelo México e pela Colômbia em uma reunião com países centro-americanos no sábado, horas antes da abertura oficial das discussões da cúpula.

"Mais que resultados concretos, a cúpula será uma vitrine do movimento de Santos para o centro político, traduzido também em medidas como a suspensão da tramitação do acordo militar com os Estados Unidos e uma lei de restituição de terras a famílias atingidas pela violência de narcotraficantes e guerrilhas. A única linha de continuidade em relação a Uribe é a abertura ao capital estrangeiro", comentou o cientista político Eduardo Pastrana, da Pontifícia Universidade Javeriana, de Bogotá.

Para Pastrana, o afastamento entre Santos e Uribe sinaliza uma divisão no grupo dirigente colombiano. Em linhas gerais, Santos, cuja família controlou o principal grupo de mídia do país até 2007, representaria um meio empresarial urbano e modernizante. Uribe estaria vinculado aos interesses da elite rural.

A reunião empresarial, organizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), presidido desde 2005 pelo colombiano Luis Augusto Moreno, não deverá contar com a participação dos países da Alba, a aliança política comandada pelo venezuelano Hugo Chávez e também integrada pelo boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega e o equatoriano Rafael Correa. Estarão no evento com empresários, que deve reunir cerca de 600 dirigentes empresariais, 30 deles brasileiros, os países que reúnem maior fluxo de investimento estrangeiro.

De acordo com o último relatório da Unctad disponível na internet, com dados de 2010, o Brasil liderou o fluxo de investimentos diretos externos no bloco continental se excluído os EUA, com US$ 48,4 bilhões. O Canadá foi o polo seguinte de investimentos, com US$ 23,4 bilhões. Em seguida aparecem o México, com US$ 18,7 bilhões; o Chile, com US$ 15,1 bilhões, o Peru, com US$ 7,3 bilhões, a Colômbia, com US$ 6,8 bilhões, e a Argentina, com US$ 6,4 bilhões.

A ausência de Correa não apenas do encontro empresarial, mas também da cúpula das Américas como um todo, é tudo que restou da pressão dos países da Alba para influenciar na condução do encontro. Ontem, Evo Morales e Hugo Chávez, mesmo doente, confirmaram que estarão na cúpula.