Título: Prioridade por óleo leve tira Campos de leilão
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Brasil, p. A3

Pela primeira vez na história das licitações para exploração de óleo e gás feitas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), iniciadas em 1999, a Bacia de Campos (RJ), responsável por 82% de todo o petróleo produzido no Brasil, ficará fora de uma oferta, a oitava, programada para acontecer nos dias 28 e 29 de novembro. A decisão não se deu por esgotamento da exploratória da bacia, mas porque o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), responsável pela definição dos blocos, optou por uma estratégia de centrar fogo na busca de gás natural e de petróleo leve.

O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, enviou ofício de protesto ao presidente do CNPE, ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Menos exploração agora pode significar menos royalties no futuro, para Estado e municípios. Segundo o secretário, havia oito setores da Bacia de Campos na proposta original da ANP. Ele disse ainda que não houve reunião do CNPE, do qual é membro e no qual o governo tem maioria, para aprovar o desenho final da rodada e considerou "um equívoco" alijar Campos. De acordo com Victer, Campos tem as maiores reservas conhecidas de gás do país e não produz só óleo pesado.

Polêmica à parte, é em gás e em óleo leve que estão os pontos fracos da atual produção brasileira de hidrocarbonetos. As refinarias da Petrobras foram construídas em um período no qual a maior parte do óleo refinado vinha do exterior e era do tipo leve ou intermediário. Hoje, da média diária de 1,754 milhão de barris que é produzida (dado do primeiro semestre) no país, apenas 12% é do tipo leve e 21%, do tipo intermediário. Os outros 67% são de óleo pesado.

Apesar de ter feito várias adaptações nas refinarias para processar mais óleo pesado, a Petrobras é obrigada a exportar parte do óleo que produz para importar do tipo leve, de modo a compor o mix adequado. O problema é que o óleo pesado é até US$ 15 por barril mais barato do que o leve. Ou seja, apesar da auto-suficiência alcançada em abril deste ano, o país ainda gasta divisas para importar óleo.

Na área do gás, o problema ainda é a dependência externa, no caso, da Bolívia. Dos 38,8 milhão de metros cúbicos diários (exceto o consumo próprio da Petrobras) consumidos no ano passado, 24 milhões vieram da Bolívia.

A previsão da Petrobras é de que o consumo, exceto o dela mesma, chegue a 99,2 milhões de metros cúbicos diários em 2011, com um crescimento de 17% ao ano. Mas, ante as incertezas trazidas pela nacionalização dos hidrocarbonetos no país vizinho, a estatal prevê que as compras de gás boliviano estacionarão nos 30 milhões de metros cúbicos/dia já contratados.