Título: Inflação deve recuar nos próximos meses, prevê FGV
Autor: Saraiva,Alessandra
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2012, Brasil, p. A4

O patamar de inflação apurado pelo Índice Geral de Preços 10 (IGP-10) de abril, que subiu 0,70%, diante de aumento de 0,27% em março, não deve se sustentar nos próximos meses. A avaliação é do coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) Salomão Quadros. "Uma taxa mensal de 0,70% é um nível elevado de inflação. Essa alta não é consistente com a fase atual de nossa economia", disse.

Segundo o economista, o repique de preços mensurados pelos IGPs em março, e agora com o IGP-10 de abril, foi impulsionado pela redução na oferta de soja. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda do produto no atacado, no entanto, não deve durar, prevê.

Segundo Quadros, a soja foi responsável por dois terços da aceleração da inflação atacadista, que saltou de 0,24% para 0,76% de março para abril, e representa 60% do total dos IGPs. O coordenador lembrou dos problemas de estiagem na região Sul, no início do ano, que prejudicaram as perspectivas de produção do produto, cuja colheita começou em março.

"Essa subida de preço da soja e de seus derivados é decorrência da quebra de safra, em janeiro e em fevereiro, quando se pensou que tinha sido completamente absorvido o impacto na inflação", disse Quadros. "Agora, em março e em abril, verificou-se que o estrago foi maior do que o estimado inicialmente."

Na avaliação de economistas consultados pelo Valor, o forte reajuste na mão de obra na construção e o aumento nos preços dos produtos industrializados devem manter os IGPs em alta nas próximas semanas. Para a economista Tatiana Pinheiro, do Santander, o avanço dos preços no atacado embute a valorização de cerca de 5% no dólar nas últimas semanas. Os preços industriais no atacado subiram 0,59% neste mês, após alta de 0,12% em março. "Veremos reflexos disso [do câmbio] também no varejo", afirma.

Ela ressalta que nos produtos agropecuários também é possível perceber interferência da variação cambial, embora a maior pressão venha de influências sazonais e climáticas, como no caso da soja.

Fabio Silveira, da RC Consultores, diz que a especulação no mercado internacional de commodities se intensificou após o refinanciamento da dívida europeia. "Houve aumento de liquidez e parte dos recursos foi destinada aos contratos de soja, que permitem montar e desmontar posições rapidamente."

Para os consumidores, diz a economista do Santander, a alta do dólar será vista nos preços dos alimentos, que continuarão subindo. Entre março e abril, os alimentos no varejo ficaram 0,51% mais caros, contribuindo para o avanço de 0,53% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), um dos componentes do IGP-10.